Sempre aos Domingos foi uma excelente ideia de televisão de Maria João Seixas, no Canal 2 da RTP, aqui há uns anos. Uma conversa/entrevista da Maria João com um convidado, por norma, inteligente e bom conversador. E, de seguida, um filme ou um documentário, escolha do entrevistado. Alguém se lembra? Eu lembro-me, por exemplo, da sessão dedicada aos filmes inacabados de Orson Wells ou aquela sobre a perseguição e tentativa de extermínio dos ciganos do leste da Europa pelos nazis. Ou ainda um belíssimo documentário sobre os taxistas de uma cidade sul-americana (qual?): Metal & Melancolia. Vocês viram o que eu vi?
Agora vêem-se outras coisas. Ligam a televisão por volta das 8:45 e apanham o Jornal de Domingo, da SIC, a meio. Alinhamento das notícias: na rubrica (muito boa) "Nós Por Cá...", da Conceição Lino, ficamos a saber que uma mãe de 38 anos, nascida e registada em Portugal com o nome de Nereida, não pôde dar este mesmo nome, por decisão das autoridades competentes, à filha recém-nascida (a quem, notem, foi em alternativa dado o nome de Catarina Alexandra). Entrevista com a avó da bebé: "Nereida é um nome bem português; as nereidas até vêm nos Lusíadas do Camões! Estavam no Tejo!" (na verdade, essas são as Tágides; mas também ninguém se lembrou ainda, creio, de chamar Tágide a uma filha!). Outra notícia: uma "rotunda" em Viseu. Rotunda é maneira de dizer, pois esta está "desenhada" apenas, em esforçado trabalho de calceteiro, na via. E, por isso, não recebe o devido respeito de ninguém (a não ser do senhor vice-presidente da autarquia, entrevistado na reportagem). Eis o que as imagens, entretanto, mostram: os veículos dos descendentes de Viriato a passar, a todo o momento, por cima da supra-dita "rotunda". Em marcha rápida, seguimos para outra matéria: Portugal, é verdade, foi notícia no estrangeiro. Já sabemos o que esperar, o mais certo é não ser coisa boa. Pois foi o caso: mais precisamente, a notícia, no Libération francês, foi sobre os deputados da nação que, depois de uma famosa ponte, agora reincidem, e decidiram desmarcar os trabalhos parlamentares a fim de poderem assistir, daqui a duas semanas, ao importantíssimo Portugal-México do Mundial de futebol na Alemanha. Se calhar, não é má ideia... se calhar, evita-se alguma proposta legislativa mais espúria (o Dia Nacional do Escaravelho da Batata?)... Se os deputados sabem fazer as suas contas, o que dizer dos adoradores de capicuas & outras loisas? Cá vai: a notícia que se seguiu foi sobre a próxima 3ª feira, o dia 6 do mês 6 do ano (dois mil e) 06. E sobre algumas maneiras mais estrambólicas de ler essa conjugação convencional de números formando uma data (no nosso calendário, em mais nenhum outro!). 666. O número da Besta e o fim do mundo, etc. e tal. Vocês viram o que eu vi? Bom, fim do mundo ou não, para mim chegou. Não aguentei nem mais uma gota de tamanha dose de informação & cultura clássica (ah, as Nereidas!...). E, comando na mão, resolvo-me a carregar no botão. Sabem que mais? Não podendo rever o documentário metálico & melancólico dos taxistas sul-americanos, vou reler Camões! Antes as Tágides!...
1 comentário:
Acho que tb vi esse documentário. Lembro-me desse programa das conversas e dos filmes. Parece que a televisão (e a vida) tinham um ritmo mais pausado.
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