3.6.06

O Peso de Granito do Mundo

Deixamos, por um par de horas, a dupla de filhos em casa dos avós. E fazemos, como namorados livres, cheios de calor na tarde, uma pequena incursão à Feira do Livro. Passaram tão poucos, mas já parecem tantos os anos desde essa primeira vez... Levo comigo uma pequena lista, mental, de compras mas, como sempre, há um livro desconhecido à minha espera. De resto, só podia ser um livro de poesia. De amor: Qual é a Minha ou a Tua Língua? - Cem poemas de amor de outras línguas (edição Assírio & Alvim, organização de Jorge de Sousa Braga). Pouco depois, regressamos a casa, em silêncio, a tempo de recolhermos os filhos para lhes darmos de jantar. Então abro o livro e leio: "Como cariátides / os nossos braços erguidos /seguram o peso de granito do mundo // e derrotados / venceremos sempre." Versos de Miroslav Holub, poeta que desconheço por completo. Enquanto escrevo isto, os meus filhos comem na cozinha, lá ao fundo, o que a mãe lhes preparou. Massa, carne, sopa de agriões, fruta. O sol declina, o dia fica mais fresco. É o momento de fechar o livro. Agora. Alguém chama por mim, lá de dentro.

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