4.6.06

Autografia


Ontem à tarde, Feira do Livro de Lisboa. Longa fila de visitantes ordeiramente à espera. De quê? C. diz: "Deve ser o Lobo Antunes." Era. Por causa de um autógrafo. Admiro muitos escritores, mas nunca me pus numa fila por causa de um autógrafo. Qual é o valor acrescentado do livro autografado? Coisa que não alcanço... No caso de Lobo Antunes, então, parece-me que há uma dupla, e estranha, vontade de sofrer. Por parte dos leitores, os quais, não lhes chegando a verdadeira barragem de fogo de frases dos romances do autor, ainda se dão ao trabalho de se porem em filas, sob o sol inclemente de Junho, para ele rabiscar à pressa uma saudação e a assinatura. Por parte do escritor, porque de facto deve ser um aborrecimento tremendo, ano após ano, Feira após Feira, ter de rabiscar, à pressa, dezenas ou centenas de saudações-standard e assinaturas quase ilegíveis. Ossos do ofício, claro. Respeito pelos leitores, sem dúvida. Mas antes escritor maldito! Um último ponto, já agora: será possível descortinar alguma relação entre estes massacres a que um autor se sujeita e a visão das coisas do mundo que a sua obra mostra? Seria Lobo Antunes outro romancista se pudesse apenas escrever, e não tivesse que rabiscar tantos autógrafos? Um escritor mais feliz? Mais legível?

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