31.1.07

Ciclo Preparatório

- E então, como estás?
- Sozinho.
- Eu já estava sozinha há muito tempo.

Aprendo com os erros e volto a errar. A escolaridade obrigatória do amor parece não ter fim.

Poesia em pousio

(Sagres, Algarve, 2003)

30.1.07

Bicicletas na Poesia Portuguesa Contemporânea 3


A primeira das "Cinco Canções Lacunares", datadas de 1965-68, que Herberto Helder coloca entre "Húmus" e "Os Brancos Arquipélagos" na edição de Poesia Toda que tenho (de 1990) é "Bicicleta" e começa assim:
"Lá vai a bicicleta do poeta em direcção
ao símbolo, por um dia de verão
exemplar. De pulmões às costas e bico
no ar, o poeta pernalta dá à pata
nos pedais. (...)"

Depois, mais adiante no caminho, continua:

"Os êmbolos do coração ao ritmo dos pedais --
lá vai o poeta em direcção aos seus
sinais. Dá à pata
como os outros animais."(p.295)

Esta visão do poeta como animal (bicho vivo, mágico, pernalta) é um poema de 5 estrofes (que oscilam entre os 11 e os 9 versos), com algumas rimas (parte delas interiores), em verso livre (sem métrica regular) mas controlado. Estas características formais equilibradas (o equilíbrio necessário a evitar a queda) podem ser pensadas em contraste com a viagem simbólica da própria "bicicleta do poeta" ao coração das trevas que é a vida e que é proposta pelo/no poema: "a vida é para sempre tenebrosa", dizem-nos os versos 21 e 22, praticamente a meio do texto. Esta viagem é, portanto, metáfora e descoberta da vida, dessa "puta de vida subdesenvolvida"(v.25) que nos querem impor e que é imperioso transfigurar para poder ser realmente livre e verdadeira. Assim se revela a improvável e decisiva responsabilidade do poema (essa "bicicleta do poeta") -- por ele aceitar aceder ao amor (à "confusão do amor", isto é, à con-fusão do amor) e à confrontação simbólica, amorosa, com a morte ("Morte é transfiguração, / pela imagem de uma rosa" vv.34/35). O rolar dos pneus nos caminhos não cessa, por isso, de nos questionar: como viver a vida na sua inexorável relação com a morte? Talvez uma resposta possível, embora precária, possa ser: criando, escrevendo, amando no máximo das nossas possibilidades pessoais. Talvez assim possamos resgatar magicamente alguma parte desta "vida (...) para sempre tenebrosa". A caminho de "um verão interior".

TETRA.3

29.1.07

Novíssima Terminologia Linguística Em Vigor

Personagens: filho, 9 anos; pai, mais de 30, um pouco menos de 40. Espaço: por aqui. Tempo: um destes dias. Acção:
Pai - Filho, vai lavar os dentes!
Filho - Okay, pai. Nas puras!
Pai - Nas puras!?
Filho - Sim, pai... não percebes nada da linguagem dos adolescentes! E agora também não tenho tempo para te explicar!
Fim. Na boa!

SIM, claro!

Não me apetece escrever muito – já quase tudo se escreveu e se disse e, finalmente, é mesmo uma questão de consciência. Apenas quero deixar registado que, no próximo dia 11 de Fevereiro, votarei SIM no referendo sobre a despenalização da IVG. SIM, pela liberdade responsável de todos; SIM, pela saúde das mulheres; SIM, contra o cinismo. Acrescento apenas que, sobre o assunto, vale a pena seguir a sugestão do empenhado respirar e ler esta reportagem na edição de hoje do DN.

Adenda: De tudo o que já se escreveu, também gostei muito da força e da clareza destas palavras de Pedro Lomba: "Voto "sim" por um motivo legível: numa controvérsia tão difícil e irresolúvel como a do aborto, o "sim" alarga as nossas possibilidades de resposta aos problemas que o aborto coloca, o "não" fecha essas possibilidades." Aqui está o texto integral.

Memória Fotográfica


(Mauritânia, Janeiro 2007)

28.1.07

A Flor e o Desastre

Dizem que até neva. Descubro um poema e rapto alguns versos, sorrateiro, como essa neve que diz que disse.


"Não há guarda-chuva
contra o poema
subindo de regiões onde tudo é surpresa
como uma flor mesmo num canteiro.

Não há guarda-chuva
contra o amor
que mastiga e cospe como qualquer boca,
que tritura como um desastre."


João Cabral de Melo Neto

Nubívago

Regressa a chuva. Mas como regressa, se nunca deixou de aguar? [Save as Draft para um desenho mas, hélas!, a este céu falta contraste e a chamada profundidade de campo]. Dizia eu, talvez não volte a escrever aqui "talvez não volte". Lição da chuva: nunca nos despedimos completamente, mesmo quando partimos sem retorno. Fazemos então de conta, de gargalhada, de boneca vodu com olhos amarelos, de cobói rufia, de poeta em chamas, de canto o silêncio. [Publish Post].

Esguichada

(depois de algumas palavras de LP)

Dizes um belo poema com facas e laranjas que também pode ser de unhas e dentes nessa pele. Sabemos como são doces ou amargos os gomos, às vezes com uma pitada de acidez que arrepia. Sabemos que, como as palavras, o sumo pode escorrer dos lábios para o queixo, até deslizar pelo pescoço, a pedir, digamos, alguma criatividade linguística. Mas – repara! -, tal como mordemos e chupamos as laranjas, dizemos quase tudo, quase sempre, com cuidado, para evitar salpicos e nódoas maçadoras.

Desculpa a franqueza algo citrina: que se fodam os salpicos mais as nódoas! Outra laranja?

26.1.07

Check Out

Procuro nos bolsos os restos da paisagem. Passo os dedos pela cara lisa, estranhando-me, vagamente outro. Uma voz comenta, sobre o meu ombro (dentro de mim?): começam assim muitas pinturas abstractas e algumas guerras civis. Respondo, ainda sem sorrir: um dia, da falta de sentido que há nisto tudo, nascerá a desejada tranquilidade. Coloco num cachimbo os restos da paisagem e arrisco um fósforo.

(Nota supostamente descoberta numa gaveta de um quarto do Hotel de La Poste, em Saint-Louis, no Senegal, onde pernoitou Antoine de Saint-Exupéry, enquanto piloto da famosa companhia Aéropostale)

23.1.07

Abrigo

Ampulheta

On the Road

(Num trilho pedregoso, em Marrocos)

Primeira Plateia

(Espectadores do rali nos arredores de Atar, na Mauritânia)

Todo o Terreno

(Crianças brincando em Mbaké, no Senegal,
perto da meta da penúltima etapa do rali Lisboa - Dakar)

Bicicletas na Poesia Portuguesa Contemporânea 2


Em Electronicolírica, livro de 1964, depois re-intitulado A Máquina Lírica (sigo a edição de Poesia Toda, Assírio & Alvim, de 1990, entretanto re-intitulada E o Poema Contínuo), Herberto Helder dá a lume o primeiro poema que conheço em que o leit-motif da bicicleta tem um valor significativo determinante (haverá outro, mais tarde, "Bicicleta", de Cinco Canções Lacunares). É o segundo poema desse livro-sequência-capítulo da obra poética de Herberto e começa assim:
"A bicicleta pela lua dentro -- mãe, mãe --
ouvi dizer a toda a neve." (p.251)
A bicicleta é o dínamo, o elemento desencadeador do movimento do poema como proposta de transfiguração do real - a bicicleta já não terrena, mas aérea, voadora, lunar (spielberguiano como sou, não deixo de ligar esta imagem à de Elliott e de E.T. a cruzarem magicamente a lua na sua fuga em bicicleta no filme E.T. - O Extraterrestre...). Bicicletas que voam e toda a neve a chamar a "mãe", imagens da poesia como campo poderoso e mágico, produtor de encantamento e espanto. Aliás, um pouco mais à frente no poema, o sujeito lírico passa a ser a "mãe" que impele, como musa ambígua, o filho para o canto da poesia:
"Canta nesse espanto -- meu filho -- os satélites
sonham pela lua dentro na sua bicicleta."(p.251)
Satélites de bicicleta pela lua dentro: a personificação remete directamente para o facto de em 1957 (ou seja, sete anos antes da 1ª edição do poema em Electronicolírica) ter sido lançado para o espaço, com sucesso, o primeiro satélite humano: o famoso Sputnik. Sintomaticamente, o terceiro verso do poema na sua versão de 64 era: "As árvores crescem nos satélites russos"; este adjectivo foi eliminado em Poesia Toda, pelo menos na edição que eu tenho. O verso ficou: "As árvores crescem nos satélites." Ganhou a Poesia, perdeu em sabor a História. Mas deixemos os satélites e voltemos à bicicleta de Herberto. Ela volta a reaparecer no poema, ligada à memória:
"Avança memória, com a tua bicicleta."
Ora fazer avançar a memória é, mais uma vez, algo que escapa ao quadro normal da percepção quotidiana das coisas, traço que caracteriza parte do processamento poético do autor de Os Passos em Volta: a memória deixa de ser um recuo, uma revisitação do passado, para se afirmar movimento para diante, descoberta do novo e do desconhecido: "é a neve avançando na sua bicicleta."(p.252) Para além de resquícios surrealistas, esta metáfora mostra a máquina lírica sempre em movimento para a frente, cruzando tempos e anulando as fronteiras entre passado, presente e futuro. Assim, se no fim do poema a bicicleta surge associada à imagem da morte ("a bicicleta / vergava ao peso desse grande atum negro"), também é verdade que a morte alimenta de vida os vivos, faz "tanta força", obrigando-os a pedalar (a viver, a criar, a escrever) sem interrupção:
"O teu nome negro com tanta força --
minha mãe.
(...)
Ao contrário tão morta -- minha mãe --
com tanta força, e nunca
-- mãe -- nunca mais acabava pelo tempo fora."(pp.253-254)
De bicicleta, pela página fora.

22.1.07

Bicicletas na Poesia Portuguesa Contemporânea 1


Estas viagens começam com Luís Veiga Leitão, em 1955, ano da publicação do livro Noite de Pedra. Aqui a experiência de encarceramento por razões políticas é objecto de transfiguração estética da mais alta valia, em versos de ritmo tenso, mas classicizante, de notória espessura poética e humana. Interessa-me, sobretudo, o célebre, belíssimo poema dedicado "A Uma Bicicleta Desenhada na Cela":

Nesta parede que me veste
da cabeça aos pés, inteira,
bem hajas, companheira,
as viagens que me deste.

Aqui,
onde o dia é mal nascido,
jamais me cansou
o rumo que deixou
o lápis proibido...

Bem haja a mão que te criou!

Olhos montados no teu selim
pedalei, atravessei
e viajei
para além de mim.

Magnífico conseguimento poético... neo-realista!: a bicicleta como metáfora da fuga, da hipótese de liberdade, da esperança contra o espaço claustrofóbico da cela, ali "onde o dia é mal nascido". A bicicleta desenhada, e a "mão" desconhecida que a "criou", confundem-se, num movimento comunicante, com a mão que escreve o poema, fazendo deste a outra bicicleta que assegura ao poeta a possibilidade de viajar "para além de " si e das paredes que o oprimem. Pedalemos, pois!
(Luís Veiga Lietão, pseudónimo literário de Luís Maria Leitão, nasceu em 1912 e morreu em 1987. A sua Poesia Completa foi editada pela Asa, na colecção Terra Imóvel).

21.1.07

Citação com Memória

"É possível reedificar assim cidades inteiras.",
M.G., Acusações, AEFCUP, Porto, 1987, p.18.

(como não consegui deixar um comentário no vosso blogue, manifesto desta maneira o gosto de voltar a saber de ti e da H. Boas viagens pela linha do Norte!)

20.1.07

Princesa Fiama

(Fiama Hasse Pais Brandão. Poeta portuguesa. 1938-2007).

"American Kitsch" (só para os fanáticos de Deadwood... de todas as idades!)




"American Kitsch" (só para os fanáticos de Deadwood)


Al Swearengen e Seth Bullock em versão alegre!

"Nomes americanos" (só para os fanáticos de Deadwood)



"Apaixonei-me por nomes americanos,
Pelos nomes finos que se mantêm sempre elegantes,
Pelos títulos em pele de cobra dos registos de minas,
Pelo elmo de guerra emplumado do Chapéu Medicinal,
Por Tucson e Deadwood e Lost Mule Flat."

(primeira estrofe de "Nomes americanos", poema da autoria do poeta norte-americano Stephen Vincent Benét; sigo a tradução de Maria Teresa Maia Carrilho e Emanuel Sabino, apresentada em Hino à América Poética, Universitária Editora, pp. 49-51, à excepção do verso 2).
Já agora: Mister Ian McShane regressou a casa e entra como "voz do Além" em Scoop, o último do Woody Allen... Ficámos sem whisky em Deadwood? "Cocksuckers!"

19.1.07

Magnólias


Ricardo Reis, numa das suas odes estóicas, diz: "antes magnólias amo / Que a glória e a virtude." Em tempos de glória vã e virtude duvidosa, como não entender esta opção? As magnólias, puro "resplendor" para os sentidos (olhar, olfacto, tacto,... gosto?), coisa concreta nas mãos, evidência do crime absoluto da beleza. Reencontro uma dessas magnólias num livro de Luiza Neto Jorge (toma nota, J.), O Seu a Seu Tempo (cf. Poesia, Assírio & Alvim, Lisboa, 1993): "(...) A magnólia, / o som que se desenvolve nela / quando pronunciada, / é um exaltado aroma / perdido na tempestade, // um mínimo ente magnífico / desfolhando relâmpagos / sobre mim." Dizer, portanto, outra vez: Magnólia. E sentir o magma a irromper, a magna radiação na boca.

17.1.07

The Straight Story

The Straight Story

Só vi este filme uma vez. No cinema.
Para mim um dos filmes mais bonitos do sr. Lynch ...
Gostei mesmo. A banda sonora é uma pérola ...

11.1.07

James Dean's da "Poesia" Portuguesa 7


Mário Botas, pintor, 1952-1983 (31 anos).

"Frases contra o silêncio..."

in, Aos Queridos Mortos, Durs Grunbein, Angelus Novus, Coimbra, 2003.

James Dean's da Poesia Portuguesa 6


Live fast, die young and have a good looking corpse: Daniel Faria 1971-1999 (28 anos), "Caminho como um remo que se afunda."

James Dean's da Poesia Portuguesa 5


Live fast, die young and have a good looking corpse: Luís Miguel Nava 1957-1995 (38 anos), "embora o sol fosse alto ainda, àquela hora".

James Dean's da Poesia Portuguesa 4

Live fast, die young and have a good looking corpse: Nuno Guimarães 142-1973 (31 anos), "Jaz (algures, em luz) morto Rimbaud".

James Dean's da Poesia Portuguesa 3


Live fast, die young and have a good looking corpse: António Maria Lisboa 1928-1953 (25 anos), "lá longe numa fonte cheia de fogos-fátuos."

James Dean's da Poesia Portuguesa 2


Live fast, die young and have a good looking corpse: Mário de Sá-Carneiro 1890-1916 (25 anos), "O Erro sempre a rir-me em destrambelho -"

James Dean's da Poesia Portuguesa 1


Live fast, die young and have a good looking corpse: Cesário Verde, 1855-1886 (31 anos), "Que sinto só desdém pela literatura".

10.1.07


O Futuro é agora e aqui ...

6.1.07

J no Dakar ...


J, depois diz se viste este post ...
BOA VIAGEM, que corra tudo bem e um GRANDE ABRAÇO!!!!! e beijokas das meninas ... ;-)

As Paixões dos Fortes


Noite longa na RTP Memória. Primeiro com a revisitação de A Paixão dos Fortes / My Darling Clementine, o grande clássico de Ford sobre o duelo mais célebre de todo o Oeste: os irmãos Earp vs. os Clanton no O.K. Corral de Tombstone. Henry Fonda e Victor Mature em interpretações de luxo, com umas pitadas de Shakespeare pelo meio e duas referências, pelo menos, à cidade de... Deadwood (isto anda tudo ligado!). Os espaços majestosos e poeirentos de Monument Valley, misturados com as doses certas de fantasmas do passado, humanidade e humor, mas também solidão e desespero, condimentos tradicionais no cinema que Ford nos serve de forma única e insuperável. E tudo termina com a última deixa de Wyatt Earp / Henry Fonda dirigindo-se, impecavelmente penteado e barbeado, à bela Miss Carter que fica à espera do seu regresso à cidade: "Gosto mesmo desse nome: Clementine!" Também eu...
Depois, segundo duelo, desta vez no Estádio da Antas, em 1993. Porto vs. Benfica, oitavos de final da Taça de Portugal. Já não me lembro como terminou o prolongamento (vou-me deitar, sinto-me cansado), mas aindavi o memorável golo de Mostovoi, empatando quase no fim (1-1, aos 88 minutos, de livre directo)... De qualquer maneira, tenho a impressão de que o Benfica ganhou a Taça nesse ano. Ou a memória reescreverá a história de acordo com os nossos desejos?

5.1.07

Esta viagem

Sinto-me a desertar (com) o coração.

3.1.07

U(s) Too!



Deixo de lado, por momentos, Tony Judt e o seu monumental e interessantíssimo Pós-guerra... e leio, condição de admirador oblige, entusiasmadamente U2 by U2, o álbum de memórias desfiadas a quatro pelos bravos rapazes de Dublin (mais 1, Paul McGuinness, o agente de sempre da banda), editado em Setembro do ano que passou pela Fubu, chancela que desconheço mas a que vou prestar, naturalmente, atenção. Estou a meio. E estou a deliciar-me com as muitas fotografias e histórias, contadas em pormenor por Bono, Edge, Adam e Larry, que fizeram e fazem dos U2 a banda de música popular mais marcante do mundo nos últimos 25 anos, quer em termos musicais, quer em termos latamente políticos. Pelo menos, para mim. O livro não conta tudo, mas quase: as histórias familiares da rapaziada, os problemas entre pais e filhos (as zangas entre o Bono e o pai são um tema recorrente), o modo como se começaram a interessar por música (o facto de esta ser um chamariz eficaz para atrair miúdas parece ter sido fundamental!) não dominando quase nenhum tipo de conhecimento musical, o desejo de formar uma banda, os primeiros ensaios (95% de discussão e 5% de afinação das guitarras), a escolha do nome (começaram por ser, imaginem, os Feedback, depois foram os The Hype e só à terceira U2, nome que o Bono aceitou com dificuldade por poder ser lido também como you too, demasiadamente careta para uma banda pós-punk!), as primeiras aparições em escolas, bares e clubes de Dublin, os primeiros fracassos que se transformaram em desejo de serem e fazerem melhor (coisa mais fácil de conseguir em grupo do que individualmente), a vitória num concurso de bandas e o prémio de poder gravar um single, as portas que se fecharam todas... menos uma, no último momento!, a sorte de conhecer a pessoa certa, a determinação, a vontade de superação, o amor pela música, o primeiro álbum, Boy, e os primeiros concertos que deram nas vistas, as dificuldades com October e as belíssimas propostas do piano do The Edge, depois War e canções como "Sunday, bloody sunday", "New year's day" ou "40", a conquista gradual do mundo até se transformarem na banda/empresa/instituição/símbolo que hoje são. É um livro fantástico, portanto. Um prato cheio de iguarias para os fans, servido com doses maciças de humor e peripécias que permitem olhar estas rock stars como homens normais que souberam lutar, com inteligência e espírito de banda... ou de bando, pela concretização dos seus sonhos de rapazes, não perdendo a ligação ao mundo dito real. O livro ideal para começar o novo ano com certo optimismo e algumas gargalhadas à mistura. Provocadas, por exemplo, pela recordação daquele ensaio, no início de tudo, na casota de jardim do Larry, quando o telhado caiu sobre toda a gente devido ao peso da chuva. Ou pela descrição pormenorizada da famosa actuação no Live Aid, quando o Bono, mais uma vez, deixou os camaradas sem saber o que fazer em palco durante longos 6 minutos (tinha ficado combinado que seriam tocadas 3 músicas, foram tocadas apenas 2 por se ter esgotado o tempo da banda), lançando-se para cima do público. Foi a actuação mais marcante desse dia inesquecível (não sou eu que o digo!), mas ninguém na banda se apercebeu realmente disso. O Bono andou de candeias às avessas com o resto da equipa... até que jornais, revistas e televisões começaram a mostrar a actuação dos U2 como um momento fantástico e genuíno de crença no poder da música para comover as pessoas e, de uma certa maneira, para mudar o mundo (já agora, business man como são, eles lembram que, na semana a seguir ao Live Aid, os seus álbuns chegaram todos aos tops de vendas). Duas histórias das muitas que eles contam e que reacendem a vontade de os ouvir de novo em Boy, October, War, The Unforgettable Fire, The Joshua Tree e todos os outros álbuns magníficos que compuseram até How to dismantle an atomic bomb, o último, já de 2004. Será 207 ano de novo disco? Espero bem sim. Porque também nós fazemos parte da história. Sim, U(s) too!

2.1.07

Deadwood

Deadwood 1 e 2, já cá cantam ;-)