9.6.06

Frente a Frente? Diálogo de Surdos?


Debate (?) sobre o estado da Educação, SIC Notícias, 22:20. Participantes: Maria de Lurdes Rodrigues, Ministra da Educação; Paulo Sucena, Secretário Geral da Fenprof. Moderador: João Adelino Faria. Avaliação: de 0 a 20 valores. Critérios de avaliação: qualidade / conteúdo das intervenções; presença televisiva.
Maria de Lurdes Rodrigues: nota 8. Porque, apesar da insistência na ideia de que é preciso distinguir os professores excelentes ou muito bons dos somente regulares, não consegue mostrar como é que isso se faz objectivamente (em relação com os níveis de sucesso dos alunos? com as taxas de abandono? com a avaliação dos pais?...). Porque também não é capaz de mostrar objectivamente como é que a sua proposta de estatuto vai melhorar o que quer que seja nas escolas (pelo contrário, previsivelmente, vai abrir autênticas guerras civis; vai colocar, por exemplo, professores mais velhos contra professores mais jovens...). Porque não diz que este estatuto tem o objectivo inconfessável de impedir a progressão do maior número de professores ao topo da carreira e poupar a maior quantidade possível de dinheiro (objectivo legítimo, sem dúvida, mas que terá custos ao nível da motivação e do desejo de progressão profissional dos professores... quando estes se derem conta de que os lugares para professor titular estão já todos ocupados nos próximos 10, 12, 15 anos... Pode haver qualidade de ensino com professores desmotivados e "congelados" permanentemente?)... Porque... Porque... Mas a presença televisiva foi politicamente correcta: supostamente aberta à negociação; correpondendo aos projectos e ideias dos professores de Matemática, etc. Tudo muito longe das declarações sobre o mau profissionalismo dos professores, ouvidas e noticiadas nos últimos dias. Os gestores de imagem fizeram o seu trabalho.
Paulo Sucena: nota 7. Falhou no discurso e na presença televisiva. Parece mal preparado (talvez não esteja; mas, então, por que motivo precisa de deitar um olhar meio disfarçado aos papéis?). Parece acomodado no seu papel institucional de representar o maior sindicato de professores deste país (mesmo depois de uma eleição, bem recente, por margem mínima, sinal de grande insatisfação da parte de muitos professores sindicalizados). Parece esgotado na capacidade, urgente, de organizar a classe, de forma criativa, no sentido de esta recuperar confiança e ser capaz de responder firmemente às provocações (inexistentes no debate desta noite, mas factuais, sistemáticas e propositadas ao longo do último ano) da ministra e da sua equipa. Depois de tantos anos à frente das lutas dos professores pela dignificação da profissão docente, talvez seja altura de compreender que essas lutas precisam de novos rostos e de ideias mais firmes e claras.
João Adelino Faria: nota 14. Porque mostrou estar informado e conseguiu acompanhar, pontuando-o, o desenrolar da conversa. No entanto, manifestou, por vezes, uma tendência algo perturbadora para interromper o dirigente sindical, facto sem a mesma correspondência em relação à ministra, cujo discurso praticamente não foi interrompido. Mas foi, claramente, o melhor dos três. O que, valha a verdade, não pode deixar de constituir um sintoma preocupante dos muitos problemas do sistema educativo português.

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