11.6.06

As Casas & os Escritores (retorno)

A Feira do Livro termina hoje? Este ano, só fui uma vez. É um sinal da crise. Houve também muito trabalho pelo meio, & outros impedimentos. Mas gostaria de dizer que gosto da Feira ao ar livre, ali, na encosta escorregadia do Parque. À chuva (às vezes) e ao sol (quase sempre). Gosto daquelas barracas coloridas, rústicas, com qualquer coisa de inacabado, uma espécie de habitações provisórias dos editores que são, por algumas semanas, as casas dos escritores. E eu penso que devemos preservar as casas dos escritores. Visitá-las, dar-lhes vida, torná-las quentes e verdadeiras (mesmo que sejam barracas de feira...): não Casas-Museu, no sentido mortal do termo. Por isso quero, um dia destes, visitar e conhecer a casa de Camilo em Ceide, a casa de Eça em Tormes. Embora todos saibamos que a única casa verdadeira dos ecritores é a língua, a casa do ser. O que significa isto? Significa que todos os grandes escritores são, realmente, homens e mulheres sem casa, "sem abrigo". Porque a língua, ao mesmo tempo que se deixa apropriar, ou habitar, pelo escritor e pelo poeta, escapa-lhe por entre os dedos. É isso que leva, de resto, à escrita, à continuação da escrita - a perpétua perseguição da palavra e do sentido que sempre escapa. Por consequência, até o escritor que se refugia para escrever no seu quarto é um homeless, alguém que está irrevogavelmente na rua, à mercê da violência dos elementos. À chuva (quase sempre) e ao sol (às vezes). Porque escreve. Porque a língua é a morada esventrada do ser. Aí onde se ouve e sente o vento a passar, por entre as frinchas do corpo e as estrias do espírito.

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