Literatura Portuguesa. Ficção contemporânea: Manhã Submersa, de Vergílio Ferreira (1955). Uma história de aprendizagem, narrada na perspectiva de um rapaz de 12 / 13 anos, o António Santos Lopes, o Borralho (uma espécie de projecção das vivências do próprio Vergílio Ferreira). O romance denuncia, a partir de uma experiência de Seminário, a contradição entre os valores e as práticas religiosas e clericais na província, atrasada e conservadora, dos anos 30 / 40 portugueses (quando o elogio abstracto do amor cristão se manifesta na prática quotidiana como violência concreta sobre os seminaristas). Há ainda a denúncia da opressão que uma instituição rígida, com as suas regras e hierarquias, exerce sobre o indivíduo, especialmente fragilizado porque criança ou adolescente. Pode ler-se, aqui, claro, uma denúncia política mais vasta, do Estado Novo salazarista, de que o Seminário é a maqueta ou o microcosmos. Mas o romance mostra também como a liberdade e a libertação são possíveis, ainda que com custos elevados (o sacrifício da auto-mutilação final do protagonista). Aliás, a existência do romance é a melhor prova de sobrevivência que se pode apresentar: ele foi escrito por alguém (António / Vergílio Ferreira) que sobreviveu para contar a história. Um romance excepcional, do melhor que o autor escreveu (portanto, do melhor que a literatura portuguesa pode apresentar). Pelo que este post é um convite à leitura. A história (não o romance...) começa assim: "Tomei o comboio na estação de Castanheira..." Dispostos para a viagem?
14.6.06
Manhã Submersa 1
Literatura Portuguesa. Ficção contemporânea: Manhã Submersa, de Vergílio Ferreira (1955). Uma história de aprendizagem, narrada na perspectiva de um rapaz de 12 / 13 anos, o António Santos Lopes, o Borralho (uma espécie de projecção das vivências do próprio Vergílio Ferreira). O romance denuncia, a partir de uma experiência de Seminário, a contradição entre os valores e as práticas religiosas e clericais na província, atrasada e conservadora, dos anos 30 / 40 portugueses (quando o elogio abstracto do amor cristão se manifesta na prática quotidiana como violência concreta sobre os seminaristas). Há ainda a denúncia da opressão que uma instituição rígida, com as suas regras e hierarquias, exerce sobre o indivíduo, especialmente fragilizado porque criança ou adolescente. Pode ler-se, aqui, claro, uma denúncia política mais vasta, do Estado Novo salazarista, de que o Seminário é a maqueta ou o microcosmos. Mas o romance mostra também como a liberdade e a libertação são possíveis, ainda que com custos elevados (o sacrifício da auto-mutilação final do protagonista). Aliás, a existência do romance é a melhor prova de sobrevivência que se pode apresentar: ele foi escrito por alguém (António / Vergílio Ferreira) que sobreviveu para contar a história. Um romance excepcional, do melhor que o autor escreveu (portanto, do melhor que a literatura portuguesa pode apresentar). Pelo que este post é um convite à leitura. A história (não o romance...) começa assim: "Tomei o comboio na estação de Castanheira..." Dispostos para a viagem?
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