28.2.07

Ilhéu

"Já percebi que o que as ilhas têm de mais belo e as completa , é a ilha que está em frente (...)"

(Raul Brandão, As Ilhas Desconhecidas, Editorial Comunicação, 1987)

Jantar Singular

A aprendizagem do silêncio - apenas música de uma omoleta amorenando. Loiça e tristeza acumuladas, com restos indefinidos. Olhos borboleta nocturna, procurando a luz. Cala-se a música, saboreia-se o silêncio. Falta-lhe sal.

O setôr

“O que é a História?”, escreve o setôr, branco, toxicodependente, filho de activistas 60’s rendidos à boa vida, no quadro de uma escola de um bairro negro de Brooklyn, NYC. Quando o setôr joga ao “braço de ferro” com um aluno, procura mostrar como a História é feita de tensões e como, quando alguém (ou algum movimento) está a ganhar, pode sair derrotado. Um filme político, muito actual? Sem dúvida! Mas também um intenso filme indie sobre as tensões psicológicas do indivíduo e palco para um actor, Ryan Gosling, com um desempenho espantoso. Gostei muito e recomendo. Atenção à banda sonora, em boa parte da responsabilidade dos Broken Social Scene (mais uns rapazes do Canadá).

Half Nelson (Encurralados), de Ryan Fleck, EUA, 2006

27.2.07

Felizmente Há Primavera!

De regresso a casa, depois da ida ao teatro, no final da tarde quente dou com a praceta cheia de putos a correr, a saltar, a jogar à bola, a gritar, a andar de bicicleta de um lado para o outro... E percebo que a primavera acabou de chegar ao bairro! Mesmo que as previsões sejam de chuva para amanhã. Ou por isso mesmo.

Resistir


Hoje enchemos A Barraca para assitirmos a uma bela representação de Felizmente Há Luar!, de Luís de Sttau Monteiro. Alguns sairam, desconfiados, da escola. Torcem o nariz quando se fala de teatro ("Que seca!") Mas, no fim, todos concluímos que tinha sido um privilégio assistir ao trabalho sério e profissional dos actores, principalmente da grande Maria do Céu Guerra, capaz de comover o público (juvenil e adulto) com um texto, à partida, nada fácil, que remete, em 1961, para acontecimentos históricos ocorridos nos primeiros anos do século XIX. Sttau Monteiro estabelece um paralelo entre a figura de Gomes Freire de Andrade e Humberto Delgado, homens que se opõem, cada um no seu tempo, ao poder da tirania. E pagam com a vida tal ousadia. O objectivo do autor é claro - enaltecer a capacidade de resistência e de desejo de liberdade do espírito humano: "Há homens que obrigam todos os outros homens a reverem-se por dentro..." (fala de Sousa Falcão, Acto II). Pode parecer que não, mas é um texto de uma actualidade latente, tanto nacional, como internacionalmente. Diz Manuel, o porta-voz do povo: "(...) Quando precisamos deles, dão-nos cinco réis! Quando precisam de nós, pedem-nos a vida! Se há guerra, se temos o inimigo à porta - "Aqui d'el rei" que a terra é de todos e todos temos que defender, mas, batido o inimigo, chegada a época das colheitas, quando se trata de comer os frutos da tal terra que é de todos, então não! Então a terra já é só deles!" Palavras de 1961 para retomar e aprofundar nas aulas de amanhã. E depois de amanhã.

Todos os momentos contam

Na semanal oficina dos afectos, confirmo a importância de dois pequenos momentos ocorridos/vividos no dia de ontem. Transporto para hoje as sensações provocadas por esses pequenos momentos, tornando mais tranquilo o passar das horas. Gostei tanto que resolvo reincidir: ao balcão do café, para o lanche, arrisco um compal de ananás e côco.

Este Dia

Apetece-me rasgar todos os calendários para te escutar de novo. “Imagina que esta pedra, na minha mão, é a tua vida!”. Como se tivesse sido eu a puxar-te o braço e a lançar-me pedra sobre este rio cruel, que galgou o dique do meu peito e afogou, nas margens, a nossa alegria. Sei agora: onde via caravelas, eram apenas cacilheiros e o Novo Mundo estava na beleza do nosso abraço. Como é doce e amarga esta memória, no instante em que, sem o saberes, te desejo
parabéns.

26.2.07

A Pendência Processual (2)

Há dias em que dou comigo a pensar que teria sido bom passar pela tropa. Outros, nem por isso. Ombro, alma!

A Pendência Processual (1)

Há frases que escutamos ou lemos e nos ficam agarradas aos ouvidos ou aos dedos, um dia inteiro. Simples frases. Umas, pela poesia que transpiram, outras, pela estranheza que nos sugerem. Algumas vezes, basta deslocá-las do contexto para ganharem novos significados. Esta manhã, por exemplo, no rádio: “a pendência processual está caótica!”. Não podia estar mais de acordo.

Todos os dias contam

Há sempre alguém que nos mostra como a nossa penumbra está cheia de claridade. Coragem, princesa! Obrigado, amigo, pelo atalho para as estrelas.

25.2.07

between storms

(Um poema de Robert Frost, junto a um lago no Vermont, EUA, Outubro 2005)

Jack Daniels & Rachmaninov

Não há outra maneira de o dizer.

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24.2.07

Fish Soup

para a C., sem malícia

No relatório policial ficou escrito que as bonecas viram tudo, com aqueles perturbadores olhos amarelos, a partir de uma prateleira do móvel da sala. À mesa, os homens trocavam piadas sobre a classificação da Primeira Liga e discutiam, animadamente, a viagem que iriam iniciar na manhã seguinte. A anfitriã tinha alegado uma indisposição para não os acompanhar na sopa de cação, partilhando uma salada ligeira com a amiga. Como sempre, os homens sorviam, gulosos, o caldo alentejano, trincando, deliciados, os pequenos pedaços de peixe. Pelo que se sabe do relatório, era um jantar de despedida, antes deles se fazerem à estrada na velha pick-up. Uma semana inteira sozinhos, em busca dos famosos gambuzinos!, exclamavam, quase eufóricos, repetindo a sopa e elogiando a cozinheira. No final, ela agradeceu, perguntando quem tomava café. Já na cozinha, ligou a máquina, alinhou as chávenas e aproveitou para guardar no armário o frasco do poderoso laxante.

Hot Dog

para a P., sem malícia

O primeiro a dobrar a esquina foi o salsicha. Era preto, com umas manchas castanhas e atropelava-se nas pequenas patas, imprimindo-lhes o máximo de velocidade permitida pelo seu código genético, enquanto as orelhas esvoaçavam ao vento. Os olhos, esbugalhados, denunciavam desorientação. Logo de seguida, surgiu o pão: meia baguete, com um elegante corte a meio, pulando sobre a calçada, com o inconfundível estilo de um participante numa corrida de sacos de batata. O desenlace foi fulminante, como nos documentários da National Geographic: o salsicha tropeçou, mesmo em frente da montra da florista, e a baguete lançou-se sobre ele, abrindo e fechando as badanas, numa temível tenaz de trigo integral. No mesmo instante, um homem desdobrou-se na esquina, em passo firme. Chapéu de abas, óculos escuros, longo casaco de cabedal, botas texanas e, numa das mãos enluvadas, uma embalagem de mostarda.

23.2.07

Sistema Venoso 2

Era a primeira vez que jantavam, depois de muitos anos afastados. “Meus Deus! O que é que te aconteceu?!” alarmou-se ela, quando ele arregaçou as mangas da camisa para atacar o fumegante arroz de pato, deixando à mostra as cicatrizes nos pulsos. Ele pousou os talheres e as mãos, viradas para cima, sobre a toalha branca com pequenas flores azuis e olhou-a bem dentro dos olhos. Ela estava encostada na cadeira, com os braços caídos, num jeito aflito. “Sossega. Isto foi antes de descobrir a minha veia poética”. E, sem mais delongas, brindou-a com três sonetos, onde os conhecedores detectariam uma evidente influência de Camões.

Sistema Venoso 1

Ainda não tinha metido a chave à porta e já escutara as gargalhadas familiares. Demorou a chave, estranhando algo naquele som. Não sabia se era o volume ou o timbre, talvez a velocidade com que as gargalhadas surgiam, entrecortadas por suspiros e gemidos. De repente, imaginou o pior e sentiu as pernas amolecerem. Não, ela não seria capaz! Respirou fundo e abriu a porta. Na sala, encontrou-a desalinhada no sofá, com uma agulha no braço, ligada, no outro extremo, ao televisor de plasma. No ecrã passava o genérico final do Gato Fedorento. Suspirou de alívio. Sempre tinha achado o sentido de humor dela, uma droga.

Muddy Waters (FOGOOOOOOOOO!) ;-)

Sonny Terry & Brownie McGhee (autores de God and Man, a melhor musica do album com a banda sonora de Deadwood)





22.2.07

O Astrotáxi Moralista

Um espirro e uns borrifos de chuva no pára-brisas desatam a conversa costumeira. Que isto do tempo já não é como dantes, que "Março, marçagão" está à porta mas ninguém garante que “de manhã Inverno, à tarde Verão”, e por aí fora, semáforo sim, semáforo não. E o gajo, de aquecimento ligado, a embaciar-me os óculos e a alma depois do saboroso frio da beira-rio e, para mais, com o tradicional cabelinho arredondado de orelha a orelha a esconder careca, sai-me destarte: “Sabe o que lhe digo? Já tenho comentado com outros clientes: isto ficou assim depois dos americanos e dos russos irem à lua!”. Espirro e peço factura discriminada. “É o que lhe digo, amigo. Os tipos deram cabo do... da Da camada de ozono?, arrisco, alargando a gola da camisola e bufando nos vidrinhos, para desembaciar a paisagem. “Da atmosfera!” remata triunfante, esclarecendo: “desvirginaram a atmosfera!”. Um falso alarme de espirro – ele espera – e chega a taxímetra comparação: “Isto é como desonrar uma mulher, nunca mais é a mesma!. Furaram por ali acima, os americanos e os russos, e estragaram tudo. É o que lhe digo…”.

Podia Ser Uma Arte Poética

Na tarde perdida abro a janela, de máquina em punho, para fixar o bando de pardais que pousou nos ramos da árvorezita em frente. Mas eles, logo que se apercebem das minhas intenções fotográficas, recusam colaborar. Não, não estão para ali virados: levantam voo e, num piscar de olhos, desaparecem do meu campo suburbanizado de visão. Pelo que as palavras, estas, são a fotografia possível, a única que me resta, desse seu bater de asas esparvoado.

21.2.07

Bicicletas na Poesia Portuguesa Contemporânea (poema hors-série de O'Neill)


"ELOGIO BARROCO DA BICICLETA

Redescubro, contigo, o pedalar eufórico
pelo caminho que a seu tempo se desdobra,
reolhando os beirais - eu que era um teórico
do ar livre - e revendo o passarame
à obra.

Avivento, contigo, o coração, já lânguido
das quatro soníferas redondas almofadas

sobre as quais me entangui e bocejei, num trânsito

de corpos em corrida, mas de almas paradas.

Ó ágil e frágil bicicleta andarilha,

ó tubular engonço, ó vaca e andorinha,

ó menina travessa da escola fugida,

ó possuída brincadeira, ó querida filha,


dá-me as asas - trrrim! trrrim! - pra que eu possa traçar

no quotidiano asfalto um oito exemplar!"


(Alexandre O'Neill, in "A Saca de Orelhas", Poesias Completas 1951/1986, IN-CM, Lisboa, 1990, 3ª edição, revista e aumentada, p. 370.)

Bicicletas na Poesia Portuguesa Contemporânea (citação hors-série)


“(...)

Alexandre O'Neill inventou o verbo bicicletar para definir a sua escrita, ou a de escritores que muito admirava como Gui­marães Rosa, que tinha sido aquele que mais bicicletara a língua portuguesa. Há, aliás, um “Elogio Barroco da Bicicleta” n' A Saca de Orelhas, como há outras bicicletas pedalando pela sua obra. Mas talvez a melhor definição do objecto seja a mais antiga, escrita em pleno entusiasmo surrealista e publicada em Tempo de Fantasmas:

E as bicicletas? O que são para ti as bicicletas, rapaz? As bicicletas que de cabeleira ao vento correm sobre nós de todos os lados tão prontas a uma agressão como a um beijo, as bicicletas loucas que nos sobem pelas costas e ficam horas e horas a rodar no alto da cabeça, as bicicletas que às vezes são usadas como lunetas pelos pobres de espírito? Interessava-me saber o que pensas das bicicletas. Lembras­-te, com certeza, dos mendigos fardados que distribuem telegramas, que martirizam as pobres pequenas bicicletas... E nelas, pensas? Acaso te aproximaste já de alguma com verdadeira intenção de a conhecer?

Em 1973, explicara a Eduardo Guerra Carneiro o fascínio por tal objecto: «Eu andava muito de bicicleta com o meu pai. Dava grandes passeios. Era no tempo da guerra. Achava graça àquilo. E depois, vocês sabem, a bicicleta era um tema muito querido aos surrealistas, que faziam colagens sobre bicicletas. Além disso, o Jarry era um bom ciclista...»

Em 1985, quando reeditou, muito aumentada, Uma Coisa Em Forma de Assim, O'Neill escolheu para a contracapa do livro uma fotografia do filho Alexandre, que o tinha apanhado de bicicleta encavalitada no nariz, a servir de lunetas.”


(in Maria Antónia Oliveira, Alexandre O'Neill - Uma Biografia Literária, Dom Quixote, Lisboa, Janeiro de 2007, pp. 269-270 (com exclusão das notas finais).)


Bicicletas na Poesia Portuguesa Contemporânea (hors-série)


(Fotografia de Alexandre Delgado O'Neill: o poeta "caixadòclos" com bicicleta de arame; anos 70)


Chega ao fim esta série de posts sobre bicicletas na poesia portuguesa contemporânea. Qual é a última etapa desta breve volta a Portugal? É a que começa e acaba em Alexandre O'Neill, o "caixadóclos", o que não se levava a sério, o "lanterna vermelha", como ele se auto-retratava em metáfora velocipédica no penúltimo poema dos seus Poemas com Endereço, livro de 1962. Vem isto também a propósito da muito recente e excelente "biografia literária" do poeta, obra de Maria Antónia Oliveira, editada pala Dom Quixote, e cuja leitura estou prestes a concluir com proveito e prazer. Por meio deste livro desempoeirado ficamos a conhecer algumas das peripécias e aventuras de vida do autor de "Um Adeus Português" e, também, um do seus primeiros poemas, publicado num jornal de província, O Castelovidense, em Julho de 1944, no qual se fala, às tantas, d'"as bicicletas dos operários suburbanos"(p. 52)... Outros tempos! Voltemos, para terminar, aos referidos Poemas com Endereço, de 62. O livro fecha com um poema de quatro versos, intitulado "O Ciclista", maneira bem adequada, parece-me, de pôr um ponto final nestas esforçadas andanças ciclo-poéticas. Aí vai ele,

"O Ciclista

O homem que pedala, que ped'alma
com o passado a tiracolo,
ao ar vivaz abre as narinas:
tem o por vir na pedaleira."

Pois que por venha, pois então!

Bicicletas na Poesia Portuguesa Contemporânea 9


Em 1990, Albano Martins (n. 1930) reuniu, num volume prefaciado por Eduardo Lourenço, a sua poesia publicada até à data. Chamou-lhe Vocação do Silêncio - Poesia (1950 - 1985) (Lisboa, IN-CM). Sensivelmente a meio do livro, a páginas 157 e 158, dá-nos a ler um poema constituído por 17 estrofes (15 quadras e 2 dísticos finais), cujo título é "Teoria do Conhecimento". A primeira das estrofes reza assim:

"De bicicleta vou
no encalço das
íntimas, súbitas
relações. Mas"

É o início de um poema que se apresenta implicitamente como uma poética autoral, quer dizer, um texto através do qual o autor pensa a poesia como modo de entendimento das coisas interiores e exteriores a si; portanto, da poesia como uma "teoria do conhecimento" que, em simultâneo, se encena como uma teoria do conhecimento, desdobramento do poema como sujeito e objecto de conhecimento ("espelho e imagem", diz o poeta na 5ª estrofe). Nesta medida, o poema é tanto a bicicleta que permite o movimento do poeta como a própria viagem de descoberta das "íntimas, súbitas / relações" que organizam os fenómenos e a sua percepção. No entanto, o empreendimento do poeta, esse desejo de conhecer, de ir "no encalço", não tem garantida nenhuma espécie de sucesso. Pelo contrário, logo no fim dessa 1ª quadra encontramos a conjunção adversativa "mas" que restringe, fatalmente, a capacidade de se alcançar o que se deseja. Há uma óbvia negatividade, uma força contrária que retrai a movimentação do poeta-ciclista. Ele di-lo da seguinte maneira (4ª estrofe):

"Sobre rodas é que
se movem meus passos.
De cera compacta
são os trilhos (...)"

O movimento é travado parcialmente pela natureza do piso: "cera compacta". No entanto, é nessa mesma superfície difícil que o poema pode ser escrito, traçado: "traços // que as rodas (...) / desenham / à sua passagem". Pelo que escrever é uma forma árdua e dura de avançar no e de conhecer o mundo. Um "diário exercício" que exige uma entrega radical daquele que se dispõe ao conhecimento, ainda que precário e falível, pela escrita. Razão de ser e de viver, a poesia serve para alguém (o poeta ou o leitor, tanto faz) procurar "conhecer a sua / razão de estar / voltado a ocidente"(11ª estrofe), ou seja, para buscar o entendimento de si no seu tempo, no espaço onde se encontra com outros. Talvez aqui se possa referir que este poema de Albano Martins fecha um livro de um tempo concreto e determinado, Em Tempo e Memória, de 1974, no qual se pensa o presente como parte de uma continuidade histórica, cultural e poética que configura aquele que escreve e por ele é reconfigurada

"(...) por razões
idênticas ou
alheias viveram
outros onde estou"(12ª estrofe).

Este encontro, que é igualmente confronto, com os outros (passados e contemporâneos) é essencial para o poeta, na sua viagem de ciclista-observador-descobridor do que existe em si e fora de si. Assim, descoberta do mundo e descoberta dos outros, a viagem do poeta é retorno a si mesmo descobrindo-se outro, em permanente mudança. Pedalar, avançar nos vastos ou vagos territórios da vida é uma forma de se reconstruir no tempo e no espaço, descobrindo-se, no final do poema, ser em movimento sempre contraditório:

"Ali me divido,
me concentro, inscrevo
a sumária legenda
do que sou e devo

ao meu próprio e
natural tamanho.

De bicicleta vou
nas rodas que tenho."

Aceitação do desencontro como conhecimento de si, modo de testar e alargar os limites conhecidos, de levar alguém a reconfigurar a cada momento o seu "próprio e / natural tamanho", eis uma sabedoria essencial do poema: lição de humildade em relação às coisas e aos outros, modo de contestar dogmas, certezas, absolutos. Força fundamental da poesia, essa arte lenta e custosa de trepar montanhas. Ou perigosa e alucinada de mergulhar em descidas e abismos. Ou suave e doce de deslizar em planícies. Ou tudo isto baralhado para se dar de novo.

19.2.07

Madness (uma inquietação)



Joe Hisaishi, Piano and Nine Cellos

The Three Burials of Melquiades Estrada

(ver filme)

Summer (um desejo)



Joe Hisaishi, autor da banda sonora de "O Verão de Kikujiro", real. Takeshi Kitano, Japão, 1999

18.2.07

Uma BOA Notícia!

Dulce Pontes pondera exílio em Espanha
Dulce Pontes afirmou ao jornal ‘La Vanguardia’ sentir-se “mais em casa em Espanha do que em Portugal. A cantora confessa estar “deprimida” porque as rádios portuguesas não passam a sua música e admite que, por vezes, até pondera exilar-se em Espanha.
in Expresso, 07.02.17

o J colocou o post 1000 ;-)

Prova de contacto

(Mértola, 2004)

Senta-te aqui, neste ângulo da memória, a sentir a luz – pouco mais me faz brilhar os olhos.

Mate

Como um açucareiro em chamas, amargo.

17.2.07

onde os nossos passos nos levaram

(Girl with a pearl earring, Johannes Vermeer, c. 1665)

"Um belo dia, um dia normal, quando pensamos caminhar na vida com o mesmo passo rotineiro, com a cabeça cheia das notícias dos jornais, dos barulhos do trânsito, com bilhetes de cinema velhos e migalhas de tabaco nos bolsos, notamos de súbito que na realidade nos encontramos há muito tempo noutro lado e que de modo nenhum nos encontramos onde os nossos passos nos levaram. Sim, havia muito que eu já não estava ali, tinha desaparecido no meio de uma luz terrivelmente baça, achava-me do outro lado da vidraça de gelo. Em momentos assim, se quisermos assentar de novo os pés na terra, se quisermos voltar a um universo - seja ele qual for - teremos de abraçar uma rapariga, teremos de conquistar o seu amor"

Orhan Pamuk, "A Vida Nova", Presença, 2006

La Bella Lingua


Certos portugueses não perdem uma oportunidade para afirmarem que a língua italiana é que é bela. Não contesto. Mas entre Firenza e Florença o meu coração não hesita. As pedras da cidade magnífica florescem muito melhor em português...

Biblioteca Municipal

No piso superior da Biblioteca, no chão do corredor central, foram colocados pedaços de papelão e recipientes plásticos, de diversas cores e tamanhos, para limitar os danos das infiltrações da água da chuva. Vejo-me obrigado a fazer uma espécie de slalom, passando por entre baldes, pisando bocados de cartão meio desfeito, para chegar às estantes de poesia. Lá chegado, escolho um livro que abro ao acaso. Leio alguns versos enquanto a luz da tarde atravessa, em grandes vagas, as enormes vidraças viradas para o rio. E não há baldes que possam conter a inundação.

16.2.07

iLustração


Pormenor de uns trabalhos que estou a fazer ...

15.2.07

Bicicletas na Poesia Portuguesa Contemporânea 8


Já vai longa esta série de posts sobre poetas, bicicletas & demais andanças. Portanto, antes que os 2 ou 3 leitores que aqui me têm acompanhado se cansem de tanta pedalada, quero declarar já que estão previstos apenas mais dois textos sobre estas tão graves questões velocipédicas: o de hoje, sobre um poema de Nuno Artur Silva, "Sentido", publicado em Onde o Olhar (Lisboa, Indício, 1986), livro que V. Exas. bem conheceis; o último, um poema de Albano Martins, "Teoria do Conhecimento", pode ser lido na sua Vocação do Silêncio - Poesia (1950-1985), (Lisboa, IN-CM, 1990, pp.157-158). Só mais uns gramas de coragem e de suor, companheiros ciclistas... estamos quase lá!

*****
"Sentido" é o poema que fecha a "V" secção de Onde o Olhar, obra de estreia poética, ao que sei, do agora muito conhecido mentor das Produções Fictícias. E é um poema inesquecível para quem goste de poesia e de bicicletas. Relembro-o, com prazer, na íntegra:

"Tschk tschk tschk tschk tschk
o som dos pedais

Aqui vou eu a pedalar sempre a bicicleta
pela estrada a atravessar a floresta a atravessar
o sonho e a luz do sol por entre as árvores

Tschk tschk tschk tschk tschk
o som dos pedais

Estou para além de mim é infindável
o horizonte entra pela memória dentro
o vento é inexplicável o vento

Tschk tschk tschk tschk tschk
o som dos pedais

Pode ser que eu me despiste e fique
imóvel a bicicleta no chão de roda
para o ar a rodar sempre ou pode ser
que eu não pare nunca pode ser que
não fique nada senão a própria velocidade

Tschk tschk tschk tschk tschk
o som dos pedais

Uma borboleta atravessa o olhar
Uma borboleta?

Tschk... hiiiii... schkSCHJTRAPTPOUGHTTT!!!
tschksssssssssss" (p.72)

Motivos para ser este um poema inesquecível para quem gosta de poesia e de bicicletas? Muitos e variados. Enumero apenas alguns. Primeiro, o uso divertidíssimo e conseguidíssimo das onomatopeias (mas também de repetições e aliterações) para dar a ouvir "o som dos pedais" ("Tschk tschk...", etc.), som que funciona como refrão do poema (é repetido 4 vezes), alternando com as 4 estrofes que vão introduzindo informação nova (referência a lugares, breves pensamentos...) sobre a viagem que o sujeito poético descreve / elabora. Depois, a simplicidade da linguagem e das imagens a que o poeta recorre (por exemplo, v.5: "o sonho e a luz do sol por entre as árvores"; ou o v.10: "o vento é inexplicável o vento"), devedora, sem dúvida, de certas leituras pessoanas (o heterónimo Alberto Caeiro parece ser o "motivador" óbvio de tais formulações). Um terceiro aspecto importante a considerar seria o dinamismo conseguido pela ausência de pontuação (à excepção da interrogação na penúltima estrofe e das exclamações da última), o que permite a criação de uma impressão de confusão ou indistinção entre a vida interior do sujeito (a "memória dentro"(v.9)) e o mundo exterior (o "horizonte", "o vento", etc.), bem como a indeterminação entre aquilo que acontece e o que poderia / poderá acontecer (no poema e ao poeta), visível na estrofe mais longa, a sexta, que volto a lembrar:

"Pode ser que eu me despiste e fique
imóvel a bicicleta no chão de roda
para o ar a rodar sempre ou pode ser
que eu não pare nunca pode ser que
não fique nada senão a própria velocidade"

Aqui talvez valha a pena regressar a Pessoa, se bem que desta vez não a Alberto Caeiro. Talvez o heterónimo apropriado seja agora Álvaro de Campos e o seu desejo de não parar "nunca", de ser "a propria velocidade", visível na sua poesia da fase futurista / sensacionista: "poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!", como declara na "Ode Triunfal" o engenheiro naval formado em Glasgow. De resto, a utilização, como vimos atrás, das onomatopeias por Nuno Artur Silva remete em linha directa para o Campos dos "r-r-r-r-r-r-r eterno!" e "Z-z-z-z-z-z-z-z-z..." da referida "Ode...". Estes últimos aspectos conduzem-nos, então, ao final do poema, que é naturalmente o seu ponto culminante - o jogo entre a penúltima e a última estrofes (já preparado pelas duas imediatamente anteriores), ou seja, o despiste do poeta-ciclista provocado por uma borboleta, espécie de comprovação empírico-poética da famosa "teoria do caos": "uma borboleta atravessa o olhar" (v.20) e tudo acaba em queda aparatosa, com a respectiva explosão sonoro-catastrófica (com qualquer coisa de clímax orgasmático à mistura!) do dístico final:

"Tschk... hiiiii... schkSCHKTRAPTPOUGHTTT!!!
tschksssssssssss"

Se toda a minha leitura deste poema pressupôs em Nuno Artur Silva a presença de uma inegável influência poética pessoana (mas nada ansiosa, antes divertida, bem disposta, como um passeio de ciclo-turismo), então talvez eu deva terminar defendendo que há aqui implicitamente uma questão de poética, uma espécie de relação mais ou menos conflituosa entre uma poesia da natureza (da borboleta e dos seus efeitos) e uma poesia da máquina (a bicicleta e os seus movimentos), uma poesia do rural e do campestre e uma poesia do urbano e da queda, parecendo mais forte, para o poeta, a primeira, pois o ondular da borboleta é suficiente para derrubar o ciclista e a sua máquina. Caeiro mais forte do que Campos, portanto. E isso explicará muito o tom simples, bucólico deste livro de Nuno Artur Silva, todo ele escrito sob o signo do "olhar. Ora, é precisamente em Caeiro que encontramos uma poética fundamental do olhar, como qualquer leitor de Pessoa sabe: "O meu olhar azul como o céu / É calmo como a água ao sol" ou "O essencial é saber ver" (Alberto Caeiro, "O Guardador de Rebanhos"). Pegamos nas bicicletas e vamos dar umas voltas pelos campos?

(Este post é uma homenagem ao ano de 1986 e a um certo programa de rádio posterior; é também uma breve homenagem a David Mourão-Ferreira; é, por fim, desnecessário será dizer, dedicado a C., leitora apaixonada de Caeiro)

13.2.07

Bicicletas na Poesia Portuguesa Contemporânea 7


Dos poetas referidos aqui a propósito de bicicletas, o de hoje, Manuel Alegre, foi o primeiro de que li alguns versos. Lembro-me bem onde, quando e por causa de quem. E recordo com igual precisão o poema que me revelou o nome do autor: "As mãos", um soneto sobre as capacidades humanas, antitéticas, de construção e de destruição ("Com mãos se faz a paz e faz a guerra..."). Eu devia ter uns 13 anos e sou capaz de rever, com clareza mínima, essa aula, o professor, a impressão fortíssima que o texto (organizado esquematicamente, com imagens legíveis quase de imediato...) me causou. Manuel Alegre é, para mim, o autor desse poema, desse momento de descoberta da poesia como lugar de apresentação do homem e das suas contradições. E isto, aos 13 anos, tem o seu peso! Não me tornei, depois, leitor assíduo de Alegre (na verdade, tenho sido um seu leitor mutíssimo irregular...), mas esse poema existe, para mim, como uma das mais gratas e intensas experiências de leitura de que guardo memória. Prova de que não é preciso ser-se um grande poeta (sendo um autor respeitável, não tem, parece-me, MA a dimensão de outros do século que passou e já deste) para se ser um poeta importante para alguns leitores (ou, basta um, leitor?). De resto, não é do poeta que venho aqui falar, mas, sim, de um seu poema. Para ser mais preciso, da sua "Bicicleta de Recados", peça velocipédica do seu primeiro e famoso livro Praça da Canção (de 1965). Texto com quatro estrofes, irregulares quanto ao número de versos, livres e soltos, terminam as ímpares com um ("ouvir o meu recado ouvir a minha canção") e as pares com outro verso ("atravessando a madrugada dos poemas"). E começa assim:

"Na minha bicicleta de recados
eu atravesso a madrugada dos poemas
pedalo nas palavras atravesso as cidades
bato às portas das casas e vêm homens espantados
ouvir o meu recado ouvir a minha canção."

Alegre assume-se, é bom de ver, como continuador de um neo-realismo que se quer reinventar como estética da urgência e da resistência no seu tempo (anos 60, guerra colonial, ditadura de décadas, país bloqueado...), recorrendo a uma temática humanista de forte pendor político e social. O poema, a "bicicleta de recados", é o meio de atravessar a "madrugada", metáfora hoje pouco actuante mas que funcionou, em certos contextos, em certos meios , como imagem de uma situação histórica de negatividade óbvia (lembram-se de expressões como "a longa noite fascista"? ou não são desse tempo, ó camaradas?), que, dialecticamente transportava em si a esperança, a luz da manhã que há-de chegar. Assim, através do poema (que tem uma mensagem, um "recado"; e que é uma "canção" - condição determinante para que alguma da poesia de Alegre fosse, de facto, musicada), o poeta agita as consciências, desperta e espanta os outros, faz do poema "uma arma". Esta visão romântico-revolucionária do poeta e da poesia assenta num patriotismo histórico e concreto ("Eu não sou o João que foi à Índia / mas trago todos os soldados que partiram "(v.v. 13-14)) e numa geografia nacional ("Desde o Minho ao Algarve / eu vou pelos caminhos"(v.v. 19-20)) que hoje parece expressivamente datada e, por isso, deve ser relida em ligação com a situação política, mas também cultural e poética desses anos de 60. Estas palavras têm, obviamente, o seu tempo, e isso merece atenção. Talvez a questão possa ser colocada nestes termos: aquilo que me cativou, com 13 anos, no poema "As mãos" de Alegre (mas podia ter sido esta "Bicicleta de recados") foi a sua força comunicativa imediata, a sua transparência, a sua veemência quase ingénua, o seu optimismo empenhado e sincero, o que se manifesta tanto através da simplicidade dos processos como pela franqueza das temáticas (vida / morte, criação / destruição). São processos de grande eficácia quando se pretende uma comunicação imediata de determinada "mensagem" ética ou ideológica... mas também são pouco desafiadores para os que, como eu, hoje, procuram num poema aquilo que um poema não pode dizer, dizendo. Ou seja, em vez do "recado" a "bicicleta" - em vez de uma mensagem já definida, que se transporta de um lado para o outro como "fórmula" mais ou menos definida, a busca, o movimento, a errância sem sentido definido à partida. Por isso a possibilidade da perda e da descoberta do que não se esperava descobrir. Do não dito, do verdadeiro espanto. Bom, escrevo isto no mesmo momento em que a RTP apresenta (suponho, não tenho o televisor ligado, o documentário sobre Salazar como "grande português"...). É um facto espantoso, creio. Talvez alguns versos de Alegre continuem, afinal, a ser necessários.


12.2.07

11.2.07

Apontamento ...

Movies by Alfred Hitchcock

The Lodger (1926 - Silent)
Starring: Ivor Novello and Marie Ault
Taut thriller of a lodger accused of murder by a jealous detective.

The Ring (1927 - Silent)
Starring: Carl Brisson and Ian Hunter
Jealous lovers and an angry prizefighter combine in this suspenseful film.

Easy Virtue (1927 - Silent)
Starring: Isabel Jeans and Ian Hunter
Drama of a woman torn between her alcoholic husband and suicidal lover.

Champagne (1928 - Silent)
Starring: Betty Balfour and Gordon Harker
Gorgeous cinematography and classic story of a rich father trying to teach his daughter an important lesson make this a must-see for many Hitchcock fans.

The Farmer's Wife (1928 - Silent)
Starring: Jameson Thomas and Lillian Hall-Davies
A farmer, his wife, and the housekeeper in a classic romantic triangle.

Manxman (1929)
Starring: Carl Brisson and Anny Ondra
Timeless story of love and betrayal on the Isle of Man.

Blackmail (1929)
Starring: Anny Ondra and John Longden
First British sound picture features tale of a blackmailed Scotland Yard inspector.

Juno and the Paycock (1930)
Starring: Sara Allgood and Edward Chapman
Adaptation of Sean O'Casey's seriocomic play of life in Dublin slums.

Murder! (1930)
Starring: Herbert Marshall and Nora Baring
When a lone juror believes the defendant in a murder trial is innocent, he's determined to find the real killer himself.

Skin Game (1931)
Starring: Edmund Gwenn and Jill Esmond
Two families-- one wealthy, one poor-- battle over land in this saga.

Rich and Strange (1932)
Starring: Henry Kendall and Joan Barry
A leisurely trip around the world for a wealthy couple is interrupted by a shipwreck.

Number 17 (1932)
Starring: Leon M. Lion and Anne Grey
This comic thriller follows the escapades of a luckless hobo who happens on a thief's hidden fortune.

The Man Who Knew Too Much (1934)
Starring: Leslie Banks and Edna Best
Political adventure-thriller of an American couple caught in an assassination plot later remade by Hitchcock himself.

The 39 Steps (1935)
Starring: Madeleine Carroll and Robert Donat
Spies, murder and mistaken identity combine in this espionage thriller.

Secret Agent (1936)
Starring: Madeleine Carroll and John Gielgud
Tension-filled thriller explores spies in the English countryside.

Sabotage (1936)
Starring: Sylvia Sidney and Oscar Homolka
This comic thriller features a theater cashier who suspects her husband is a terrorist.

Young and Innocent (1937)
Starring: Derrick DeMarney and Nova Pilbeam
A man accused of an actress' murder is aided by a young woman in clearing his name.

The Lady Vanishes (1938)
Starring: Margaret Lockwood and Michael Redgrave
A woman is drawn into a web of intrigue when her companion on a train disappears.

Jamaica Inn (1939)
Starring: Charles Laughton and Maureen O'Hara
Suspenseful melodrama focuses on daring orphan who uncovers smugglers' ring.

Rebecca (1940)
Starring: Laurence Olivier and Joan Fontaine
Adaptation of Daphne Du Maurier's famous novel of a couple tormented by the presence of the husband's dead wife.

Foreign Correspondent (1940)
Starring: Joel McCrea and Laraine Day
An unsuspecting crime reporter gets swept up in an international espionage conspiracy in this fast-paced adventure.

Mr. & Mrs. Smith (1941)
Starring: Carole Lombard and Robert Montgomery
Hilarious screwball comedy about the merry mishaps that befall a couple after they discover they weren't legally married.

Suspicion (1941)
Starring: Cary Grant and Joan Fontaine
Subtle suspense and fine-drawn tension in this mystery of a wealthy woman who suspects her playboy husband wants to murder her.

Saboteur (1942)
Starring: Priscilla Lane and Robert Cummings
False accusations of murder and sabotage leads to some surprising consequences in this chilling film.

Shadow of a Doubt (1943)
Starring: Joseph Cotten and Teresa Wright
Woman suspects her loving uncle of murder. Hitchcock's own personal favorite.

Bon Voyage & Aventure Malgache (1944)
Starring: John Blythe
Directed by Hitchcock for the war effort in Britain during WWII, this pair of short films details a British pilot behind enemy lines.

Lifeboat (1944)
Starring: Tallulah Bankhead and William Bendix
Psychological thriller about survivors trapped on a lifeboat with limited supplies. Features nail biting suspense and fine performances.

Spellbound (1945)
Starring: Ingrid Bergman and Gregory Peck
An amnesiac impersonating a famous psychologist. The doctor who wants to save him-- even if he is guilty of murder.

Notorious (1946)
Starring: Cary Grant and Ingrid Bergman
A classic tale of love and betrayal-- an FBI agent must send the woman he
loves to seduce a Nazi conspirator.

The Paradine Case (1947)
Starring: Gregory Peck and Alida Valli
Courtroom melodrama about a lawyer who falls for his client.

Rope (1948)
Starring: James Stewart and Farley Granger
Compelling tale of murder between friends, famed for its basis on Leopold & Loeb case and experimental cinematography.

Under Capricorn (1949)
Starring: Ingrid Bergman and Joseph Cotten
Period drama details saga of an English lady who falls in love with her cousin.

Stage Fright (1950)
Starring: Jane Wyman and Marlene Dietrich
Drama student accused of murder must battle to prove her own innocence.

Strangers on a Train (1951)
Starring: Farley Granger and Ruth Roman
A must-see classic, this tale of strangers who take on each other's murders builds to a nail-biting climax.

I Confess (1953)
Starring: Montgomery Clift and Anne Baxter
Thoughtful character study of a priest who hears a murderer's confession-- only to fall under suspicion himself.

Dial M for Murder (1954)
Starring: Ray Milland and Grace Kelly
An heiress and her husband's oh-so-perfect plot to kill her make up this taut thriller.

Rear Window (1954)
Starring: James Stewart and Grace Kelly
One of the Master's finest-- a photographer laid up with a broken leg finds himself caught up in his neighbors' lives-- and one of their murders.

To Catch a Thief (1955)
Starring: Grace Kelly and Cary Grant
Romance and intrigue combine in a seaside resort when a reformed jewel thief is suspected of a rash of burglaries.

The Trouble with Harry (1955)
Starring: Edmund Gwenn and John Forsythe
In this black comedy, a small town has a big problem-- a body that won't stay put.

The Wrong Man (1956)
Starring: Henry Fonda and Vera Miles
It's noir à la Hitchcock in this stark, gritty tale of a wrongly-accused jazz musician.

The Man Who Knew Too Much (1956)
Starring: James Stewart and Doris Day
Hitchcock's edge-of-your-seat remake of his own 1934 movie involves Americans caught up in an assassination plot.

Vertigo by Alfred Hitchcock (1958)
Starring: James Stewart and Kim Novak
Considered Hitchcock's masterpiece-- caught in a never-ending spiral of deception and obsession, a private detective must discover the truth behind the death of the woman he loved.

North by Northwest (1959)
Starring: Cary Grant and Eva Marie Saint
Heart-stopping suspense abound in this tale of an innocent man mistaken for a notorious spy.

Psycho by Alfred Hitchcock (1960)
Starring: Anthony Perkins and Janet Leigh
The seminal horror film of a young man tormented by his past-- and his mother.

The Birds (1963)
Starring: Rod Taylor and Tippi Hedren
Terror strikes out of nowhere when birds begin mysteriously attacking anyone and anything in their way.

Marnie (1964)
Starring: Sean Connery and Tippi Hedren
A beautiful kleptomaniac and the man who loves her clash in this psychological thriller.

Torn Curtain (1966)
Starring: Paul Newman and Julie Andrews
Bewildering his wife, friends, and colleagues, an American physicist defects-- or does he?

Topaz (1969)
Starring: John Forsythe and Frederick Stafford
Danger and intrigue abound in this complex espionage thriller.

Frenzy (1972)
Starring: Jon Finch and Barry Foster
The Master at his most shocking in this black comedy about a series of strangulations.

Family Plot
(1976)

Starring:
Karen Black and Bruce Dern

A phony psychic faces off with a jewel thief in this thriller/comedy.

Novo Público ...


Sinceramente não me agrada ... pode ser que com o tempo mude de opinião ... à primeira vista não gosto ... faz-me lembrar aqueles folhetos dos hipermercados ... gosto muito mais do actual ...

10.2.07

nunca nos despedimos completamente

(Ginjal, 2003)

Escuto passos no empedrado e a névoa que desce sobre os telhados, como um lençol. Dirás que é uma imagem poética mas é apenas a rua, quase vazia, em noite de chuva. Recolho algumas palavras desta mesa onde nos temos encontrado, a horas ímpares, como dizer que “nunca nos despedimos completamente, mesmo quando partimos sem retorno”. Releio os versos de João Cabral de Melo Neto:

“Não há guarda-chuva
contra o amor
que mastiga e cospe como qualquer boca,
que tritura como um desastre."

Escolho uma fotografia: a nossa rive gauche, sonho de artistas, spray sobre ferrugem. Escuto os meus próprios passos sépia que se afastam pelo empedrado, lajes irregulares como os dias. E a névoa, hálito húmido, desejo desenhado pela boca. Lençol, pele por um triz.

9.2.07

Pink Floyd - High Hopes

Vidro Duplo


Four Tet, And Then Patterns
"Everything Ecstatic", Domino, 2005

7.2.07

Bicicletas na Poesia Portuguesa Contemporânea 6

Tomai lá do Pacheco! Mais palavras? Para quê? Só se forem estas, do poema "Últimos desejos" (in A Musa Irregular, do livro Variações Em Sousa de 1987; utilizo a edição da saudosa Hiena, Lisboa, 1991, p.152):

"(..) quero-te de bicicleta
quero-te outra vez de bicicleta sobre as folhas
quero-te ouvir chegar de bicicleta
quero o som macio que fazia na mata a tua bicicleta"

Poesia do riso e do choro contido, da flor e do escroto, dos amores que salvam e das guerras que mutilam os homens, a do grande Fernando Assis Pacheco. Faria por estes dias (apenas) 70 anos, facto que a Casa Pessoa, aí para os teus lados, ó J., vai assinalar com duas sessões de homenagem e de leitura de poemas (com gente à altura, como Gustavo Rubim, Abel Barros Baptista, Pedro Mexia e outros). Bons pretextos para reler os poemas de FAP, como este, "Monsenhor, Passando de Bicicleta", do livro póstumo Respiração Assistida, organizado por Abel Barros Baptista para a Assírio & Alvim, em 2003:

"(...) ó lameiro do coração
como endureces!

mas vós monsenhor dando ao pedal
como abrandais a minha têmpera
até a transformardes
num veludo de rosas
que vos saúdo tiro o boné aldeão
faço o sinal da cruz mal imitado

a ver se atravessais a praça
sem bater no lancil" (p.26)

Também eu vos saúdo daqui, Meus Senhores, para que passais bem, sem tropeçar nos lancis!


Gatardjamm - Sigur Rós

Svefn g englar - Sigur Rós

Music

"...music is the purest form of expression" - Antonin Artaud

recuperar o tempo? ...

6.2.07

Bicicletas na Poesia Portuguesa Contemporânea 5


Ainda José Miguel Silva e os seus Movimentos no Escuro. Na linearidade da obra, mas sobretudo na sua economia semântica, a "Ladrões de Bicicletas..." segue-se, a páginas 21, "O Rapaz de Cabelo Verde - Joseph Losey (1948)". Estes dois poemas formam uma espécie de díptico, não tanto por citarem obras cinematográficas do mesmo ano (1948), ainda que de tom e "conteúdo" distintos, mas porque o leit-motif da bicicleta os une intrinsecamente. Em "Ladrões de Bicicletas...", como procurei notar ontem, trata-se de rememorar uma vivência de raíz familiar que tem amplas implicações de ordem poética e política (e aqui gostaria de chamar a atenção para uma das epígrafes da obra, na qual se cita Fernando Assis Pacheco para manifestar, em tempos como os nossos, uma ética expressiva que recusa a afirmação enfática ou rebarbativa: "Peçam a grandiloquência a outros / acho-a pulha no estado actual da economia"...). Neste segundo poema de Movimentos no Escuro, de modo diferente, o sujeito revela-se como protagonista da sua própria evocação, papel desempenhado pela figura paterna no poema ontem referido. E apresenta-se logo no primeiro verso do poema: "O rapaz de cabelo verde era eu, em finais de setenta". Esta identificação entre o rapaz do filme e o rapaz do poema configura-se, talvez se possa dizer, através do tópico da fuga aos "chacais" ("a turba / dos chacais acometia as minhas pernas de pardal"), fuga que se processa, como já estarão a imaginar, por meio de uma bicicleta: "só de bicicleta me tirava eu de apuros." No entanto, esta já não é uma bicicleta de fuga imaginária, como no poema de Luís Veiga Leitão; nem uma bicicleta simbólica e mítica, como em Herberto Helder; ou, sequer, um meio de transporte de um pai operário a caminho da fábrica. Na verdade, esta é apenas a bicicleta que se usa na infância para ir "por entre silvas e valados" descobrir os tesouros do mundo a pedir descoberta, mas também os perigos e os "filhos de uma puta!", dos quais se acaba a fugir a caminho de casa (como um pardal a explorar o exterior e a regressar ao ninho):

"Pedalava sobre lágrimas, de volta aos braços
do meu sangue, trepava para o muro do quintal
e de lá esconjurava os assassinos: filhos de uma puta!"

Depois isto passa, como tudo. Passam os anos. Passaram os anos - e os rapazes crescem, amadurecem, deixam de ser verdes. Uns tantos perdem mesmo o cabelo, não importando a cor. As bicicletas são abandonadas. E alguns dos que fugiram passam a ser os que perseguem. Chegam os tempos da perda da inocência, do "primeiro cigarro, (d)o exame dos colhões"(v.13). O tempo de concluir de forma idiota "que sorte / ver as lágrimas cair e não serem as minhas." (vv. 13 e 14). Um pouco mais tarde virá ainda outro tempo - o dessa espécie de loucura assombrada, mas frágil e inútil, a que chamamos poesia: movimentos no escuro.

5.2.07

Dear Prudence ...

Amizade



"Failure is always the best way to learn,
retracing your steps until you know,
have no fear your wounds will heal"

Kings Of Convenience, Failure
"Quiet Is The New Loud", Source Records, 2001

Bicicletas na Poesia Portuguesa Contemporânea 4


Agora que na China, um país - dois sistemas, as bicicletas vão sendo substituídas pelos automóveis e todos os ministros da economia dizem verdadeiramente o que pensam (ou seja, que em Portugal os trabalhadores devem retornar à bicicleta, não em nome do ambiente, mas da competitividade!), regressemos aqui ao neo-realismo. Desta vez, ao neo-realismo cinematográfico italiano dos finais dos anos 40: regressemos a Ladrões de Bicicletas, o filme que Vittorio de Sica realizou no pós-guerra italiano (recentemente saído em DVD, edição Costa do Castelo/FNAC). É este clássico sobre "fome, miséria e desemprego" que José Miguel Silva evoca, de maneira explícita, no seu muito cinéfilo e excelente livro Movimentos no Escuro (Relógio D'Água, 2005). O poema que me interessa intitula-se precisamente "Ladrões de Bicicletas - Vittorio de Dica (1948)" (p.20) que, com a devida vénia, aqui transcrevo:

"Mil quilómetros por dia pedalava meu pai, desde
a cama junto ao Douro até à prospera Cerâmica
de Valadares. Se qualquer homem recebe,
à nascença, uns sessenta inimigos por hora,
imaginem a jornada de um operário ciclista.
Tudo são despesas para ele: o rosário da geada
nas giestas, o jornal atropelado pelo vento, o verdor
da Primavera, a poalha do suor em cada mão.

Meu pai, é claro, não se queixa, ganha um conto
de réis, tem uma casa portuguesa e grandes sonhos
de amanhãs a gasolina. Pelo menos não trabalho
em nenhum matadouro, pensa ele, e com razão,
erguido nos pedais do seu veículo de sombra,
solitário trepador pela encosta de Avintes. Não
trabalha em nenhum matadouro. E nesse reconforto
passa à Quinta dos Frades, alcança o Freixieiro,
sente já o rumor de fumacentos camiões na nacional,
onde tudo, depois, será muito mais plano."

O filme é o pretexto para um filho recordar / imaginar as andanças velocipédicas diárias de um pai "operário ciclista" a caminho da Fábrica. Mas estas andanças nada têm de épico; este "neo-realismo contemporâneo" nada sabe de revolução e pouco de esperança: há muito que "os amanhãs não cantam"!. Pelo contrário, tudo são despesas", obstáculos, vida dura como a própria viagem até à "Cerâmica de Valadares": "suor em cada mão." Mas se esta é uma visão familiar desencantada sobre os meios operários portugueses do final do século XX (anos 70?), ela também não cede ao miserabilismo, porque aqui ninguém se queixa. Na verdade, há até esperança, os operários têm um sonho. Nem mais nem menos, o de participar, ainda que em forma de migalhas, no grande "Sonho" da sociedade capitalista-consumista-neo-liberal: "não se queixa, ganha um conto / de réis, tem uma casa portuguesa e grandes sonhos / de amanhãs a gasolina". Mudar da bicicleta para o carro, eis ao que se resume cruamente a revolução operária e o seu imaginário. Em Avintes como em Pequim. E, deste modo, o mundo parece estar cada vez mais condenado a tornar-se um lugar "onde tudo, depois, será muito mais plano". É neste mundo de aparências que escondem a redução do homem a objecto que se (des)encontram os operários e todos os ministros da economia.

(José Miguel Silva nasceu em 1969. Publicou 5 livros de poesia. Movimentos no Escuro é, até ao momento, o seu último livro).

Alguns anos e quilinhos depois ... :-(

Last of the Famous International Playboy

Everyday Is Like Sunday

1.2.07

3 marias


fotos:pc

Teste de post ...

Teste de post (pós migrar para a nova versão)