28.6.06

Os Pobres Que Paguem a Crise (da Educação)

Desde que me conheço que oiço dizer que o sistema educativo está em crise. E, atendendo ao que tem acontecido e ao que se prevê que aconteça, parece-me que a situação não tenderá, infelizmente, a melhorar. De alguns jornais de hoje, e sem ser exaustivo, veja-se alguns exemplos do "estado das coisas":
Público, p. 5, "Os pais do monstro" (sugestivo título, não?), "Carta ao Director" do leitor Santana-Maia Leonardo: "(...) a actual ministra não manifesta qualquer preocupação com o combate à iliteracia (o verdadeiro insucesso escolar), mas apenas com o insucesso escolar estatístico. Com efeito, as reformas em curso só, aparentemente, se destinam a reforçar o grau de exigência do ensino, porque, na prática, apenas promovem, no ensino público, a mediocridade e o laxismo, forçando um sucesso escolar absolutamente artificial. A não ser que a estratégia do Governo e do PSD para a Educação passe pela criação das escolas de nível: as privadas, destinadas às elites e para aqueles que querem prosseguir os seus estudos, e as públicas para o resto da maralha." (Aconselho vivamente a leitura na íntegra desta carta).
No mesmo jornal, p. 23, "Jornalista da RTP responde à ministra da Educação": "(...) Tenho de concordar que muitas verdades são extremamente difíceis de aceitar e se estivesse no seu lugar também me sentiria abalada com a reportagem "Quando a violência vai à escola" (transmitida pela RTP no dia 30 de Maio de 2006), mas jamais poria em causa o inquestionável e jamais me escudaria num argumento político medíocre e elementar que é, lamentavelmente, dizer que este trabalho não passa de uma criação de uma irresponsável jornalista que não tem mais nada para fazer a não ser "fabricar" casos. (...) "Quando a violência vai à escola" retrata situações de agressividade e de mau comportamento não apenas na escola onde o sistema de vídeo foi instalado, mas também em todas as escolas onde leccionam os professores que aceitaram dar os seus testemunhos (falei com docentes de diferentes escolas como fiz questão de comunicar aos telespectadores). Veja como é de tal forma grave a vivência destes docentes no interior das escolas, que os próprios não aceitaram revelar a sua identidade. Sabe por que o fizeram, não sabe? Acredito que sim. Mas é lamentável que assim seja, não acha senhora ministra? Eu acho. É sinal de que algo não está bem, e não é manipulação." (Aconselho, também vivamente, a leitura integral desta resposta).

Salto agora para a página de opinião do Diário de Notícias, para vos transcrever parte do artigo de Vasco Graça Moura sobre esta temática da "indisciplina escolar" e da "situação explosiva no ensino" que, segundo o articulista, tem solução no recurso ao "politicamente incorrecto": "Se o professor, ou alguém por ele na escola, pudesse dar duas boas chapadas ao jovem agressor, insurrecto e malcriado, o problema resolvia-se em quinze dias. E, se as coisas continuarem assim, virá o tempo em que não haverá outra solução que não seja a restauração das palmatoadas e dos castigos corporais, quer se goste quer não se goste. (...)" (Podem ler na íntegra aqui; e comprem um bom guarda-chuva, porque vão chover as indignações dos politicamente correctos!).
Poderia referir mais matéria para estudo nas edições do Correio da Manhã ou do Jornal de Notícias (neste último caso, há até, logo na 1ª página, um exemplo flagrante de, no mínimo, falta de educação: o Presidente da Câmara de Viseu e da Associação Nacional de Municípios Portugueses pediu à população do concelho para "correr à pedrada" os funcionários do Ministério do Ambiente que andam a fazer o seu trabalho! Zero em comportamento, senhor Presidente!), mas regresso ao Público, mais concretamente ao seu suplemento "Correcção dos exames - Matemática", para terminar com dois breves exemplos.
Primeiro exemplo, p. 3: "Nos últimos seis anos o melhor que os alunos que prestaram provas no exame nacional de Matemática do 12º ano conseguiram foi uma média de 7,7 valores (numa escala de 0 a 20).(...)". (Também merece ser lida na íntegra, esta notícia).
Segundo exemplo, "Comentário à Prova de Matemática B (735)", p. 16: "A prova é muito extensa e apresenta um grau de dificuldade elevado, pricipalmente pela existência da questão 4. Esta questão exige uma resolução analítica que contraria totalmente o espírito do programa. (...)". (A ler integralmente também, este comentário da Direcção da Associação de Professores de Matemática).
Conseguiram chegar aqui? Leram na íntegra? Então, 20 valores para cada um!

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