3.5.06

"Também eu fui aldrabado, também tu foste aldrabado, também ela..."

Não vi o filme, mas já vi o (um?) anúncio do filme. Feito o esclarecimento prévio, gostaria de retomar o teu post., J., sobre "os nossos novos vizinhos" e, em especial, a citação com a qual concluis o primeiro parágrafo. Citação que incomoda qualquer português interessado em Portugal e, por motivos óbvios, em particular quem está todos os dias: "aqui é tudo bom menos a escola, que é pior". Claro que a frase vale o que vale, mas não deixa de ser significativo que ela seja escolhida para concluir o citado anúncio do filme. O que motiva a escolha desta frase? O seu valor de verdade?! Ou o facto de assistirmos hoje a uma crise da escola e da sua representação social? É o pão nosso de cada dia: não há quem não ponha em causa a qualidade do trabalho feito nas escolas. Pergunto: mas alguém sabe realmente do que fala? Quais são as causas dos problemas (eles existem, claro)? Mas as soluções têm sido soluções? Por que há abandono? E insucesso? E indisciplina? E ministros atrás de ministros? É legítimo pensar a crise da escola sem pensar a crise do país? Quantas pessoas, incapazes de cumprir as suas obrigações familiares (?), cívicas, fiscais, etc, sentem como direito incontestável a crítica destrutiva da escola? "Tudo é bom, menos a escola"? Que uma imigrante, sentada numa praia, o diga é algo que custa ouvir. Mas que alguém (o realizador? o produtor? o publicitário?) use a frase desta maneira é algo que me deixa inquieto. Os imigrantes não têm problemas no SEF? Não são explorados por patrões sem escrúpulos? Estão satisfeitos com o nosso sistema público de saúde (sistematicamente destruído por governos, vejam bem, ditos socialistas e sociais-democratas)? Na verdade, parece-me que a escola tem sido o bode expiatório de muita frustração familiar e social, e vítima de muita incompetência e cegueira políticas. Claro que há maus professores. Mas há profissão sem maus profissionais? Na verdade quem tem retirado credibilidade, sitematicamente, aos bons têm sido os sucessivos Ministérios da Educação (lembram-se da "notícia" criada por esta Ministra, em dia de greve, sobre as faltas dos professores?), com decisões erráticas e contraditórias, colocando os professores a seguir e executar modelos pedagógicos transplantados a frio de outros contextos geográficos, culturais, etc. (agora é o modelo finladês), sem cuidar das condições mínimas que o permitam. Por isso também nós, infelizmente, estamos sempre a aprender a conjugar o tal verbo: "eu fui aldrabado, tu foste aldrabado, ele foi...". O que, para mim, significa que afinal a escola não é o pior. É, precisamente, o contrário.

1 comentário:

j disse...

Aquela frase não é nenhuma tese do filme, é apenas uma frase dita por uma mulher imigrante. No filme há muito mais do que isso. Há problemas burocráticos, há gente explorada, há fé.