31.5.06

"Sem olhos e sem boca"

Migro – quer dizer, vou migrando, porque a sala é ao lado e a tv continua ligada, com gargalhadas, a espaços, de M. – do Zambujal, Mário, 70 anos, muitas memórias dos malandros e da rtp malandra e – não esquecer, não esquecer (a ASD não se esquece!) do Pão com Manteiga da rádio -, em galanteios, na 2:, com Ana Sousa Dias de cara lavada depois da gripe Marcelo, para Belo, Ruy, Todos os Poemas II.

(Complexo, hein, este parágrafo?! raio de sinalética d’escrita! agora o que importa:)


LUGAR ONDE

Neste país sem olhos e sem boca
hábito dos rios castanheiros costumados
país palavra húmida e translúcida
palavra tensa e densa com certa espessura
(pátria, de palavra apenas tem a superfície)
os comboios são mansos têm dorsos alvos
engolem povoados limpamente
tiram gente de aqui põem-na ali
retalham os campos congregam-se
dividem-se nas várias direcções
e os homens dão-lhes boas digestões:
cordeiros de metal ou talvez grilos
que a mãe aperta ao peito os filhos ao ouvi-los?
Neste país do espaço raso do silêncio e solidão
solidão da vidraça solidão da chuva
país natal dos barcos e do mar
do preto como cor profissional
dos templos onde a devoção se multiplica em luzes
do natal que há no mar da póvoa de varzim
país do sino objecto inútil
única coisa a mais sobre estes dias
Aqui é que eu coisa feita de dias única razão
vou polindo o poema sensação de segurança
com a saúde de um grilo ao sol
combalido tirito imito a dor
de se poder estar só e haver casas
cuidados mastigados coisas sérias
o bafo sobre o aço como vento na água
País poema homem
matéria para mais esquecimento
do fundo deste dia solitário e triste
após as sucessivas quebras de calor
antes da morte pequenina celular e muito pessoal
natural como descer da camioneta ao fim da rua
neste país sem olhos e sem boca

Ruy Belo

1 comentário:

PB disse...

E o convite q vos fiz via email?
a ti e à M?