No meu passo de caracol vou lendo, com atraso de dias, alguns textos da imprensa escrita. Foi o caso de "O Cerco ao Parlamento" de Paulo C. Rangel (Público, 17 do corrente, p. 6), jurista e deputado do PSD. Gostaria de deixar bem claro que não me converti repentinamente à social-democracia, mas este é um artigo que reflecte sobre uma questão, de facto, mais importante do que as importantes questões de diferença ideológica e partidária, nomeadamente a crise profunda da nossa democracia e do seu sistema representativo. Questão, parece-me, que interessa a todos os democratas, de esquerda, centro ou direita. Sendo um texto de "reflexão" ou mesmo "teoria" política, não deixa de pensar o momento conjuntural presente; assim, com a devida vénia, transcrevo o parágrafo que o fecha (recomendando, como é óbvio, a sua leitura integral):
"Poucos se têm dado conta de que vivemos, há cerca de um ano, em clima de persistente guerrilha institucional. Primeiro, foi a guerra contra as magistraturas, suspeitas de privilégio e de preguiça. Depois, o ataque generalizado aos funcionários públicos, fonte de todo o mal. Agora, pelo silêncio conivente, a hostilidade face aos deputados, displicentes e virtualmente inúteis. Entretanto e noutra frente, envergando as vestes da virtude, o governo repete, com orgulho e estrondo, que não adoptou o "discurso da tanga". Mas a verdade é que tem fomentado e sido cúmplice de um discurso bem mais pernicioso e desmoralizador: o discurso dos "tanguistas". Onde antes se deitava a culpa aos antecessores, agora distribui-se pelos contemporâneos. Quanto mais se localiza a culpa nos restantes actores institucionais, mais distante se encontra o Executivo do seu propósito de catalisação e mobilização."
Metamorfoseando-me de caracol em canguru, salto agora para a página 2 do mesmo jornal, mas da edição de hoje, e leio o título do texto que aí aparece: "Um Problema Chamado País". Talvez fosse bom não perder de vista a importância de compreender verdadeiramente os significados deste título. E que dividir para reinar nem sempre é o melhor caminho.
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