Depois da feijoada de lebre, as mulheres levantam-se, arrumam a cozinha, lavam a loiça. Um dos comensais mais novo (próximo dos 40) refere-se ao grupo de homens que ficou à mesa como "o conselho dos anciãos" (média de idades acima dos 60). O narrador, um dos "anciãos", aproveita a deixa para contar esta história:
"- Um amigo contou-me o seguinte episódio. Vai de pé no metro e repara numa miúda bem bonita, sentada, um pouco à frente. Depois de a olhar por duas ou três vezes (a miúda é mesmo gira, vale a pena olhá-la!), repara que ela também começa a olhá-lo. Ele começa a pensar que a miúda lhe está a dar bola. Mas ela sai-se, delicada, com esta: "O senhor quer sentar-se neste lugar?""
(Gargalhada geral).
O anti-narrador (o que está quase nos 40) comenta então:
"- Estas histórias de miúdas e velhotes passam-se sempre com um amigo nosso. Nunca connosco. Nós nunca andamos de metro, não é verdade?"
(Segunda gargalhada geral).
Enquanto os homens dão as suas gargalhadas, as mulheres terminam a arrumação da cozinha. A loiça lavada já escorre no escorredor. Também elas contam as suas histórias, que nem o narrador, nem o anti-narrador conhecem. E, por vezes, um pouco à distância também se ouvem as suas gargalhadas.
1 comentário:
Dá gosto saber de tanta alegria. Haja saúde, caramba!
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