6.5.06

Pessoa Vai ao Futebol (e Nós com Ele)


A propósito do post anterior e do Mundial da Alemanha, no Mil Folhas, o suplemento de livros do Público, podemos ler hoje que a Casa Fernando Pessoa promoverá, durante este mês de Maio, um ciclo de debates sobre questões como o futebol e a escrita, o futebol e o jornalismo e o futebol e o patriotismo. "Antes que venha o mundial" é o título genérico do ciclo, certamente pensado pelo novo director dessa outra bela Casa de Campo de Ourique, Francisco José Viegas, adepto de futebol e, ninguém é perfeito!, do FCP. Parece-me bem interessante o programa das festas para quem, como eu, é um apaixonado da escrita (literária, mas também jornalística nas vertentes da crónica e da crítica) e do desporto-rei, especialmente a sessão dedicada às fortes relações entre o futebol e o patriotismo. São relações históricas, tristemente acentuadas no período salazarista (em Maio, é impossível esquecer os três efes: Fátima, Futebol & Fado...), complexas e ambíguas hoje, o que tende a ser acentuado pelo clima de crise (política, económica e social, mas também cultural) que atravessamos. Há quem defenda que o futebol é dos poucos sectores em que somos internacionalmente competitivos, o que é capaz de, em parte, ser verdade. Penosa verdade será esta, então! Deve ser para pensar e dabater tais coisas que os convidados da Casa Fernando Pessoa se reunirão, nas próximas 3ª-feiras, às 18h30m. Quanto a mim, gostaria só de me preparar convenientemente para o exacerbamento patriótico (ou nacionalista?) que aí vem. Nos hipermercados, o negócio das bandeiras já mexe. Jornais, revistas e, sobretudo, os canais televisivos vão inudar-nos com todas as palavras e imagens possíveis e imagináveis sobre a relação do Deco com o Figo, ou a confiança do Ricardo, ou as relações amorosas do Cristiano Ronaldo, etc., etc. Claro que há razões para isto: para além, ou aquém da paixão do jogo, é preciso vender e capitalizar (papel, espaço publicitário, tempo televisivo, jogadores, tudo). Mas há ainda outras razões que a razão conhece: em tempos de crise, quando o pão começa a escassear, é preciso dar circo às massas. E, estou convencido, mesmo que os resultados da selecção sejam fracos, como aconteceu na Coreia há quatro anos, há já um vencedor antecipado dos jogos dos próximos dois meses (entre estágio e campanha em terras alemãs): o senhor engenheiro José Sócrates. O povo, por instantes, andará entretido a pôr bandeiras nas varandas. De política sei pouco, mas não me parece que seja tarefa especialmente difícil governar um povo entretido a pôr bandeiras nas varandas. Ou agarrado à televisão a ver a bola saltar. E, quem sabe, talvez o Pauleta esteja inspirado! Talvez cheguemos às meias-finais! Talvez seja um Verão (bem) Quente! Quem sabe?! Até breve, subidas dos preços do petróleo, encerramentos de fábricas, rupturas na saúde, insucesso nos exames de Matemática, guerra no Iraque, tensão nuclear no Irão (nosso adversário no tapete verde!), incêndios de Verão, problemas na Justiça, etc, etc... Venha a bola! E força Portugal!

Sem comentários: