7.5.06

Contos da Loucura Normal

Freudiana (segunda parte)



Freud fumou até ao fim da sua vida, aos 83 anos. Nas fotografias, aparece muitas vezes acompanhado com o seu charuto entre os dedos da mão direita, vício que lhe provocou o aparecimento de um cancro na boca, o qual, por sua vez, obrigou a diversas operações e tratamentos terrivelmente dolorosos. "O Significado de Fumar Charuto" foi o tema da primeira sessão do grupo de discípulos, entre os quais Karl Jung, que, às 4ª-feiras, passaram a reunir-se com o criador da Psicanálise para debater e aprofundar as suas propostas revolucionárias sobre a psique humana. Desconheço o teor dos debates, o facto é que Freud nunca deixou de fumar. Pelo que os psicanalistas interpretam, hoje, o vício de Freud numa dupla perspectiva. Por um lado, o charuto remeterá para a pulsão de morte que domina inconscientemente todos os homens - fumar será nestes termos, ao mesmo tempo, um desejo de e um desafio lançado à morte. Por outro, fumar é visto como uma espécie de substituto adulto e socialmente aceitável (pelo menos, na altura) dos prazeres infantis de chuchar e sugar. Ou seja, o charuto no lugar do mamilo/seio da mãe: daí nasce, segundo tais analistas, o gozo do fumo. Daqui decorre que o acto de fumar poderia ser visto como uma afirmação inconsciente da ligação vital ao princípio da vida, à mãe, à origem. Não sendo fumador compulsivo, vou ler Freud. Sempre será menos prejudicial à saúde, pelo menos a física!

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