A visita da sogra para almoço e convívio familiar permite-nos, ao fim-de-semana, aceder, com certa regularidade, às maravilhas da informação cor-de-rosa. Passando os olhos pela última Nova Gente, é possível, por exemplo, ficar a saber que a Catarina Furtado deu à luz uma bebé no Hospital da Cruz Vermelha, um "dos melhores de Lisboa e também um dos mais caros"; ou que o jovem escritor José Luís Peixoto foi, em bela companhia, ao Casino Lisboa assitir ao "show de música" das "octogenárias cantoras de Wild Women Blues" (deve ter-se deliciado "com o tom tristonho e sofrido das melodias do grupo norte-americano"). Ou ainda, para nos mantermos no campo da literatura, confirmar que o professor Marcelo Rebelo de Sousa é "um leitor compulsivo", tendo comprado "7500 livros num dia". Sabendo nós que, como noticia a revista Os Meus Livros (Junho, 2006, p. 7), "desde o tempo dos sumérios, os homens terão publicado cerca de 32 milhões de livros", não podemos deixar de ficar preocupados. A este ritmo de leitura, o professor corre o risco de ler integralmente todas as obras da literatura universal em meia dúzia de anos. Ora, um dos interesses de uma biblioteca é ter livros por ler e livros que sabemos que nunca teremos tempo para ler; uma boa biblioteca é, por definição, inesgotável, infinita (não é preciso ler muito para o saber, basta, por exemplo, Borges). Felizmente, a notícia da revista desmente o título da notícia da revista: afinal, aqueles milhares de livros, comprados em saldos na livraria Galileu, de Cascais, não são para o professor ler. Verdade, verdadinha são "para oferecer à biblioteca de Celorico de Basto - de cuja Assembleia Municipal é presidente". Eis, portanto, o "destino final de todos estes amigos de papel". É caso para perguntarmos: afinal, qual é a relação entre "comprou 7500 livros num dia" para oferecer e a condição de "leitor compulsivo"? Depois queixem-se do, igualmente professor, Manuel Maria Carrilho e das suas críticas aos males do jornalismo português!
27.5.06
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