Sísifo, Mas ao Contrário
Ele está de pé e empurra aquilo para baixo, para o fundo. Junta os bocados e empurra para baixo. Faz como Sísifo, mas ao contrário. Enterra tudo aquilo. Guarda tudo debaixo da terra, das pedras. Aquilo que está sempre a emergir, a vir à superfície. Ele tem uma pá e abre um buraco no solo. Para guardar aquilo bem guardado. O que vai explodir à sua frente (e ele não consegue olhar). O que está mesmo ao seu lado (e ele não suporta ver). O que só pode desconhecer; ou melhor, o que não pode reconhecer. Ele. Aquilo. O que ele diz. O que não pode ser dito. O que se tapa com terra, onde se agarram as raízes, as que sustentam e formam o tronco da árvore que dá os frutos que o alimentam. Aquilo que o alimenta, parte do seu corpo, substância do seu espírito. Aquilo que o levanta depois de ele cair. Aquilo por que está de pé, a empurrar aquilo para baixo. Para o fundo, todos os bocados. Como Sísifo, mas ao contrário.
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