A primeira vez que li o nome deste homem foi na capa de um livro da Fenda: Ramin Jahanbegloo - Quatro Entrevistas com George Steiner (Coimbra, 2002, tradução de Miguel Serras Pereira). Aí se conversa sobre a vida de Steiner, o passado (e o) presente, a liguagem e o mundo, o amor, a arte, a responsabulidade do artista e do filósofo, e muitos outros temas de primeira grandeza para compreendermos quem somos, o que somos, o que queremos ser. É Steiner quem fala, mas é Ramin o homem que suscita e guia a conversa, de forma clara, inteligente, estimulante. Quando dois homens desta craveira conversam à nossa frente, nós agradecemos o facto de os podermos escutar. Mas, esta tarde, leio de novo o nome de Ramin Jahanbegloo e fico a saber, por meio de um texto de Teresa de Sousa no Público (p.8), de leitura urgente, que agora já não podemos escutá-lo. De nacionalidade iraniana, o Professor Jahanbegloo, um filósofo com uma carreira universitária brilhante, tradutor de Pessoa (a partir do francês) para o "farsi, a língua oficial do Irão", foi detido, no final de Abril, no aeroporto de Teerão, no momento em que tentava sair do país. Foi acusado de espionagem para os EUA e Israel. Estava prevista a sua vinda a Portugal, a convite do Instituto de Estudos Estratégicos Internacionais. Ninguém sabe se virá. Mas este é um nome, como muitos outros (Teresa de Sousa fala-nos de alguns), que não podemos, não devemos esquecer. Nomes que significam coragem, verdade, tolerância, paz, dignidade, inteligência. Isso tudo num nome, em nome de muitos outros nomes: Ramin Jahanbegloo. Foi este nome que assinou estas palavras: "o acto de ensinar Platão, Hegel, Shakespeare ou Homero é, com toda a evidência, um acto político". São palavras de 1992, do "Prefácio" às Quatro Entrevistas com George Steiner. Palavras que fazem todo o sentido hoje, aqui e agora. Palavras de cultura e delicadeza contra as mil e uma formas da barbárie contemporânea. Palavras de liberdade.
16.5.06
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1 comentário:
Interessante, o artigo, também por outra coisa. Teresa de Sousa fala no "papel central" que a Europa tem nesta crise do nuclear do Irão e na necessidade de uma "política europeia" para o Irão. Depois da grande divisão perante os instintos fatais de Bush, relativamente ao Iraque, será interessante ver como se comportam agora a velha Europa e a nova Europa.
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