A rapariga dos pés de musgo desliza pelas tábuas de madeira e senta-se na cama, junto a mim. Rolo ligeiramente o tronco e apoio-me sobre o cotovelo esquerdo. “Como te chamas?”. Silêncio, atravessado por uma lâmina de sol que se estilhaça no espelho do guarda-fatos. “Não tenho nome”, sem desviar os cabelos dourados do rosto. Aspiro o perfume vegetal que se liberta da sua pele. “Vou chamar-te Nenúfar”. Ela pergunta-me para que serve o botão, no tampo de mármore da mesa de cabeceira. Afasto-lhe os cabelos, tocando ao de leve no pescoço branco. “Faz de conta que não me conheces”.
O homem imobiliza-se e retira do bolso do casaco um pequeno caderno de capa preta. Escreve. “Hotel Le Montana Rue Saint-Benoit – Paris chambre # 416, Juillet 1993”. Guarda o caderno no bolso. Observa a mulher que espreita no espelho, com cabelos grisalhos, pelos ombros, nús. A boca, de lábios apertados e horizontais, não permite adivinhar se foi antes ou depois que esteve estendida sobre os lençóis, a olhar demoradamente a tinta estalada do tecto. O homem senta-se num sofá de tecido estampado com flores comidas pelo sol. Volta a resgatar do bolso o caderno de capa preta. Com um lápis muito afiado vai escrevinhando e olhando em volta.
1 comentário:
De quê, meu caro?
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