16.4.06

Sacrifício(s), dizem eles

O Senhor Luís Vieira, 34 anos, empresário, ex-membro da Opus Dei, foi entrevistado pela jornalista do Diário de Notícias, Sónia Morais Santos. O pano de fundo do trabalho jornalístico foi o dos sacrifícios que "milhões de católicos em todo o mundo se propõe fazer durante a Quaresma (...), recordando assim o sacrifício que Jesus Cristo fez pela humanidade, morrendo na cruz."(DN, 6ª -feira, 14 de Abril, 2006, p. 2).
O senhor Luís Vieira experimentou, em tempos, "por curiosidade", o cilício. E diz sobre tal experiência: "O cilício não faz mais do que uma ligeira comichão. Pode apertar-se mais ou menos, mas mesmo muito apertado não faz mais que provocar algum desconforto."
Satisfeita a curiosidade e abandonada a Obra, o senhor Luís Vieira não deixou de se sacrificar na Quaresma. É o que a jornalista nos diz: "Hoje, Luís Vieira já não se sacrifica desse modo, mas continua, no período da Quaresma, a impor a si mesmo algumas regras." Eis, então, as regras (ou será, as Regras?) em discurso directo: "Não ponho açúcar no café, levanto-me assim que o despertador toca, entre outros pequenos sacrifícios, que são bem mais difíceis do que o cilício."(sic)
O que dizer? Que este é um exemplo, mesmo para não-cristãos, ou para católicos pouco ou nada-praticantes. Cilício? Custa muito mais um café sem açúcar! Ou levantarmo-nos logo que o despertador toca! Eu, que nunca ponho açúcar no café (nem no chá!) e me levanto quase todos os dias logo que o despertador toca, compreendo bem o sentido cristão do senhor Luís Vieira. Que Fé! Que Compaixão!
Outro caso para meditação profunda é o da senhora Rosário Luís. 40 anos. Missa todos os fins-de-semana. E uma igual grande preocupação com o período da Quaresma. Eis as palavras da dita senhora: "Costumo andar sempre muito arranjada, muito maquilhada, tenho sempre as mãos arranjadas. E, confesso, adoro usar ouro. E habitualmente uso."
Passemos ao lado da vanitas e do ouro (estamos na Páscoa, ok?), e avancemos já para as palavras da jornalista Sónia Morais Santos, verdadeiramente impressionada com a transformação pascal da humilde serva cristã Rosário Luís: "Porém, é uma mulher diferente a que se apresenta na Pastelaria Mexicana, na Praça de Londres, em Lisboa. Calças de ganga, rabo-de-cavalo, uma única pulseira de tecido, já gasta, do Senhor do Bonfim, Brasil." Também eu, tão impressionável, sinto dificuldade em não me sentir impressionado face a tão grande capacidade de sacrifício...
Mas o melhor (ou o pior? quanto maior o sacrifício maior o, em sentido espiritual, é claro, Prazer?) está ainda para ser dito e feito. Palavras da senhora Rosário Luís, 40 anos, missa todos os fins-de-semana, que adora usar ouro: "Eu e o meu marido procuramos mesmo não ter relações sexuais neste período." De 6ª a Domingo, note-se. Quando, depois de uma semana de stress familiar e profissional, algumas contas poderiam ser acertadas a dois. Que exemplo! Que Renúncia! Que Paixão!
Ah, como eu a compreendo! Como me sinto próximo da senhora Rosário Luís! Mas não: não é por gostar de usar ouro!

1 comentário:

j disse...

A carne é tão fraquinha, não é?