18.4.06

Triagem 2

(outro)

Hospital de Santa Maria, Lisboa. O avô de M. em exames. Na sala de espera das urgências cheira a pão torrado. O bar de apoio está aberto e é um corropio de batas verdes, azuis, brancas, gente com socas de borracha e uma noite de trabalho pela frente. O quadro electrónico que devia indicar o tempo médio de espera está desligado, com a ficha pendurada pela frente e um papel que informa: avariado. “Fulano de Tal, triagem!” diz a voz no altifalante, quase tão fria como a luz, e um apito telefónico, antes de se extinguir. O protocolo de Manchester lá segue, num desfile de caras ansiosas, pálidas, conversas cochichadas e, ainda assim, alguns sorrisos. Chega um homem que treme sem parar, as mãos, a cabeça, o corpo todo a tremer, sem parar. Passa outro, pequeno e gordo, com uma tatuagem a imitar meia coroa de louros, de um dos lados do crânio rapado. Um pai e dois filhos, um casal novo e um miúdo louro, irrequieto, uma avó e uma neta. Cigarros fumados à porta que teima em não fechar a corrente de ar fria. “Beltrano de Tal, triagem!”. Chega mais uma ambulância, um corpo que entra directo, enquanto o bombeiro debita nome, idade e morada no guichet. Sai mais uma torrada e um café. Espera.

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