8.4.06

Ovo (fotografia, p/b, autor desconhecido)

Faz a prova e atira as palavras ao mar. Algumas flutuam, como um ovo. Outras vão ao fundo, como um ovo. Enche os pulmões de ar e mergulha tu a seguir, atrás dessas que se dirigem para o fundo. Agarra-as bem, com as mãos, os dentes, as pernas, tanto faz, mas antes de lá chegarem. Depois trá-las à superfície, a essas que pesam. Estende-as na areia do teu quarto, sob a luz mortiça do tecto. E quebra-lhes a casca, como a um ovo. Usa a clara e a gema. Mistura-as como se fossem um único contorno. É o teu trabalho, a hora nocturna. Uma celebração mínima e assombrosa do que vive e, depois de tudo, continuará a viver.

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