14.4.06

"O mapa e o território"

" O tédio era o espaço em que arriscávamos
a batalha das nossas vidas. O professor
falava e nós não escutávamos
presos que estávamos
à presença de um tempo em quadrícula,
às adivinhas e arremessos cruzados.

Sabemos hoje (por hábito ou fuga)
que a metáfora é esta: cega tentativa
em acertar nos objectos que flutuam
na esquadria, vasos de guerra
que irão naufragar, assim tenhamos
êxito no desenho das formas.

A maior parte de nós decobre, porém,
a diferença maior: o mapa não é a realidade,
e esta enovela-se num largo território
para o qual não há métrica
senão, e apenas, o sonho de métrica.
A densa sombra cobre a pouca verdade
que recuperamos, e, móvel,
destrói o seu legado.

Nada sabes porque nada lembras."

Luís Quintais, Duelo, Cotovia, Lisboa, 2004, p.18.

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