30.4.06
Viagem na Minha Terra
29.4.06
Sobre The Workingman's Death (Michael Glawogger, 2005)
História de Abril Que Me Esqueci de Contar
Tenha Medo, Tenha Muito Medo!
Se o Daniel Blaufuks quiser fazer Um Pouco Mais Pequeno Que o Indiana 2, eu poderei indicar, como qualquer um de nós, alguns lugares interessantes a visitar e, eventualmente, a registar em imagens. Para já, uma sugestão apenas: os quatro novos parques de campismo a transferir da Costa de Caparica para a Mata dos Medos, na Fonte da Telha, uma área legalmente protegida. Com autorização de todas as entidades responsáveis, incluindo Câmara Municipal e o benemérito Ministério do Ambiente. Ou me engano muito, ou haverá fogos por aqui, no próximo Verão. Queres ligar a câmara, Daniel?
28.4.06
Os dados na areia
- Já comprei os bilhetes.
- O que é que esperas da viagem?
- Sossego. O grau zero do stress. Tempo para pensar. Isolamento. Ausência de referências e solicitações. Um vazio para me espreitar por dentro. Foi por isso que concordei com este destino: parece-me perfeito.
- Hesitaste?
- Claro! Como sempre. Quero ver o mundo, outras cidades, outros países. Pergunto-me sempre: por onde (re)começar, raios? Ruas, cafés, museus, jardins, rios, praças, sons, edifícios, pessoas. Mas, se fosse por aí, continuava a circundar-me, a adiar esta visita interior.
- Vai ser um retiro zen, portanto.
- (Risos) Espero que seja suficientemente tranquilo.
- Não estarás a colocar muito alto a fasquia das expectativas?
- Espero que não. Só quero ser mais genuíno, mais eu. Preciso de entender como é que posso fazer isso. Acho que esta viagem pode ajudar. Lembras-te daquele texto do Vergílio Ferreira que já coloquei aqui?
- Creio que não. Sei que a minha companheira de viagem também precisa de suspender a cadeia dos dias a fio e deitar os dados na areia molhada. Desejo que seja bom para os dois.
27.4.06
Fios Invisíveis
Outra Parábola
O Filho Mais Novo
26.4.06
Vastas Emoções, Pensamentos (sempre) Imperfeitos
Tele-Melguice ...
- Está, estou a falar com o senhor Nuno?
- Sim...
- Sr. Nuno, aqui é da TMN, estamos a ligar para apresentar a promoção TMN
1.382 minutos, que oferece...
- Desculpe, interrompo, mas com quem estou a falar?
- O sr está a falar com Natália Bagulho da TMN. Eu estou a ligar para...
- Natália, desculpe-me, mas para minha segurança gostaria de conferir
alguns dados antes de continuar com a nossa conversa, pode ser?
- ...Sssssim, pode...
- A Natália trabalha em que área da TMN?
- Telemarketing Pró-Activo.
- E tem número de funcionária da TMN?
- Desculpe, mas não creio que essa informação seja necessária.
- Então terei que desligar, pois não estou seguro de estar realmente a
falar com uma funcionária da TMN.
- Mas eu posso garantir...
- Além disso, sempre que tento falar com a TMN sou obrigado a fornecer os
meus dados a uma data de interlocutores.
- Tudo bem, a minha matrícula é TMN-6696969-TPA.
- Só um momento enquanto verifico.
- ...??? (Dois minutos mais tarde) - Só mais um momento, por favor.
- ...??? (Cinco minutos mais) - Estou sim?
- Só mais um momento, por favor, estamos muito lentos hoje cá por casa.
- Mas, senhor... (Um minuto depois)
- Pronto, Natália, obrigado por ter aguardado. Qual é mesmo o assunto?
- Aqui é da TMN, estamos a ligar para oferecer a promoção TMN 1382 minutos,
pela qual o Sr. fala 1.300 minutos e ganha 82 minutos de bónus, além de
poder enviar 372 SMS totalmente grátis. O senhor estaria interessado, Sr.
Nuno?
- Natália, vou ter que transferir a sua ligação para a minha mulher porque
é ela quem decide sobre alteração de planos de telemóveis. Por favor, não
desligue, pois a sua chamada é muito importante para mim... (Pouso o
telemóvel em frente ao leitor de CD´s, coloco a música "Quero cheirar teu
bacalhau" a tocar em repeat mode e vou beber um cafézinho...)
Válido não só para a TMN: pode experimentar com a TV CABO, Clix, PT,
Cabovisão, etc...
Liberdade Vigiada
Olhar o Mundo (algumas reflexões)
(foto: j, Lx, 25 de Abril 2006)
Ainda em relação à definição dos contornos do trabalho de reportagem - que talvez ajude a definir as fronteiras/limites do (deste) documentário e alguns pontos de contacto e antagonismo -, deixa-me citar o repórter/andarilho Pedro Rosa Mendes, na introdução ao livro "ilhas de fogo", Ed. ACEP, 2002:
"Sempre acreditei que o repórter é quem escreve a realidade partindo de uma convicção essencial: escrever sobre é escrever para. Escrever, pensando que o objecto da reportagem coincide - mesmo quando sabemos que isso é de todo improvável - com o seu primeiro leitor. Escrever, imaginando sempre que o fazemos cara-a-cara com quem está dentro do texto. Quando não é assim, em vez de reportagem, temos exotismo ou narcisismo. Abundam ambos actualmente. Matéria tóxica".
Substitui escrever por filmar, texto por filme, leitor por espectador e reportagem por documentário. Mesmo trabalhando em registos diferentes, quando o real é o ponto de partida e, nalguns casos, de chegada, há algo que pode ser semelhante, a começar pelo modo como respeitamos o outro.
Alguns casos que lembraste. Cassandra e o degradante espectáculo do corpo manipulável/manipulado. Quando falei em dignidade, referia-me ao olhar de Cassandra, fora do palco e, de certo modo, a um certo pudor que senti no modo como a câmara registou as incómodas cenas no bar. Escreves: "exploração voyeurista". Pergunto: não filmar, apaga a realidade? Não mostrar, torna-a menos degradante? O realizador contou-nos que Cassandra chorou quando viu o filme. Devia ter sido poupada a isso, como ser humano? E nós, continuávamos a desconhecer até que ponto é que o ser humano pode descer para sobreviver (ou ter um estranho prazer, no caso dos clientes do bar)? Claro que esta questão remete para outra, que citaste: "para que é que isto serve?" Na minha opinião, serve para nos tornarmos pessoas mais completas, mais conscientes, talvez melhor preparadas para a acção e para a relação com os outros. Outro caso, os combates dos cães. Sabemos que acontecem, todos os dias, na Cidade do México, em Lisboa, pelo mundo fora. Talvez aquele não tivesse ocorrido, sem a presença (e o pedido, certamente recompensado) da equipa de filmagens mas será justo dizer que o realizador é o mau da fita? Falas dos alcoólicos russos e da sua humilhação e colocas na mesa o binómio denúncia/exploração? Será que temos mesmo que escolher? Penso que o realizador denuncia (dá a conhecer) alguns casos extremos, explorando (tirando partido, elaborando um trabalho que lhe dá dinheiro) essa realidade. Mas falta, nesta complexa equação, uma outra e importante variável: o espectador!
Ver MegaCities deu-me prazer intelectual. Pela arte da filmagem, pela descoberta de novas realidades, de personagens mais espantosas que as de certas ficções. Deu-me prazer pelo desafio de interpretar e pensar o turbilhão, pela sinfonia desconcertante de sons (alguns raros/distantes). Ver MegaCities incomodou-me bastante mas deu-me muito prazer. Sou, por isso, cúmplice do realizador. E não estarei sózinho. Da plateia, na conversa final, alguém (um fã da Guerra das Estrelas?) perguntou a Michael Glawogger: para quando um MegaCities 2?
Duas notas finais.
Sobre a recompensa a quem aceitava ser filmado e sobre o carácter genuíno daquilo que foi dado a ver. É natural que, ao pagar (em dinheiro ou ajudando de alguma forma), se esteja a interferir no real, no ritmo, na naturalidade desse real. Ainda assim, não me parece que isso tenha levado a uma grande distorção .
Sobre o rótulo que deve ser colado a este objecto, MegaCities. Como todos os rótulos, será sempre redutor. Talvez seja mais correcto chamar-lhe filme e escrever, no final: qualquer semelhança entre o que aqui se viu e a realidade não é pura coincidência.
25.4.06
Tanto mar (Chico Buarque)
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim
Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor do teu jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim
(Letra original,vetada pela censura; gravação editada apenas em Portugal, em 1975.)
(2ª Versão)
Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
E inda guardo, renitente
Um velho cravo para mim
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Nalgum canto do jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Canta a primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim
Problemas de Montagem e Método (3): agora em versão MicroCity
- Agora! É um desastre. Mas adora ler poesia em voz alta.
- A sério? Mas isso é fixe, pá!
- Sim. Poemas do Manuel Alegre e da Sophia... aquele do dia inicial e limpo, qualquer coisa assim...
- Mas isso é fantástico!
- É. O problema é que o pai, armado em vaidoso, quis filmar o miúdo a dizer os poemas...
- Foi?
- A câmara assusta, sabes...
- Pois assusta... Eu depois mando-te o mail com o "filme", Ok?
- Ok, manda lá o poeta...
Furúnculo
Problemas de Montagem e Método (2): ainda MegaCities
"Vastas Emoções, Pensamentos Imperfeitos" (mais um post sobre MegaCities)
The World at War - 1974
Estou a rever este brilhante documentário
em 13 DVDs The World at War - 1974 que
já tinha visto em 1978 e uns anos mais tarde ...
25 de Abril
Pela primeira vez, os quatro na rua, na noite de 24 para 25 de Abril. Fomos ver a noite, as pessoas, o Fausto e o fogo de artifício. A noite, esplêndida. O povo, na marginal junto ao rio: passeando, falando, umas cervejas frescas, uma bifanas; os putos a correrem. Revejo velhos conhecidos: Augusto, Ladislau, vários outros. Perguntam por vocês. O espectáculo começa mas, com os rapazes cá de casa, pouco batidos em comemorações, o sono e o cansaço também. Não desistimos, descansamos no murete da avenida. Aguentamos firmes, embora mais longe do palco, até ao fim. Uns minutos antes da meia-noite, a música de Fausto e de José Afonso ("Grândola") cede o lugar ao discurso, breve, do Presidente da Câmara que recorda Abril e a sua generosidade, mas também torna presente o presente e o futuro (solidariedade com os trabalhadores despedidos da fábrica Alcoa, necessidade de um Hospital no concelho, o metro de superfície...). Mas o povo já só pensa no fogo-de-artifício, que aparece um pouco depois da chegada deste dia 25 de Abril, com estrondo e maravilhamento: Aaaaah! Que lindo! A festa acabou há pouco, os rapazes já estão na cama, mas a luta continua. Por nós, por eles. Por uma nova "terra da fraternidade".
24.4.06
25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
25 d'Abril Sempre! 25 d'Abril Sempre!
Sol
Notas Para Um diálogo Interrompido
Faltam imagens de Moscovo e de Nova Yorque. Mas há-de faltar sempre alguma coisa. Isso não impede a vontade que se tem de escrever sobre as imagens. A vontade de pensar (sobre) as imagens. Pensar e escrever como processos interdependentes de quem procura compreender melhor as imagens. É, sem dúvida, uma procura, uma interrogação, uma tentativa: trazer alguma luz, se possível, às imagens, porque elas apresentam grandes sombras (são, em grande parte, imagens escuras, nocturnas, rápidas, fechadas). Tentar ver o que se vê nas imagens. E o que não se vê. Olhar a sua superfície, mas ir mais fundo. Atravessar a linha. Precisar de tempo para isso. E dizer, neste momento, apenas: notas breves para um diálogo interrompido. Antes de correr para a escola. Trabalhar. (Sobre)Viver. E sentir, bem viva, essa vontade de escrever e pensar (sobre) as imagens do filme de ontem à noite: Megacities, de Michael Glawogger. Filme de muitas imagens, e algumas palavras. A pedir mais palavras.
Apatia 2
"O absurdo é património da humanidade"
Michael Glawogger e Superbarrio, no filme/documentário Mega Cities, Áustria, 1998
23.4.06
Um maço de imbecis no jornal Expresso
Será que eles são todos patrocionados pela Tabaqueira?
"Muito pior do que fumar num restaurante é comer num McDonalds. Porque não os proíbem?"
Miguel Sousa Tavares
Daniel Oliveira
“No dia em que proibirem de fumar no Café Gijón, e matarem a velha senhora indigna, os bárbaros estarão finalmente onde querem estar, dentro das portas da cidade.”
“Quando o fumo do cigarro desaparecer destes cafés estas damas desaparecerão também, e ainda usam a cigarreira e a boquilha com o aprumo das múmias.”
Clara Ferreira Alves
Apatia
Telefonemas da Selva
Todas as semanas recebo telefonemas da selva. Até já programei o telemóvel com um toque especial para estas chamadas de números marroquinos. Vêm da região de Tânger ou de Ceuta, por vezes de Rabat ou Casablanca, outras vezes da Nigéria, Mali, Sudão.
Nem sempre atendo. Nem sempre estou disponível para esse mundo. Ontem foi Ezi, da floresta de Missnana, nos arredores de Tânger. Contou-me que um dos filhos está doente, com febre e diarreia, precisa de tratamento, mas não há forma de o levar para o hospital. Ezi e Charity têm dois bebés, porque pensaram que com eles seriam aceites na Europa. Mas não conseguiram o dinheiro para pagar às máfias que fazem a travessia. Já o tiveram, tentaram uma vez, mas o barco naufragou no Estreito de Gibraltar. Salvaram-se por milagre.
Há dois dias telefonou Gossom, contando que, depois de ter sido deportado cinco vezes para Oujda, no deserto entre Marrocos e a Argélia, preso, torturado, esfaqueado por assaltantes, os marroquinos conseguiram deportá-lo para a Nigéria.
A semana passada ligou Kinsley, que está em Ben Yunes, uma floresta perto de Ceuta. Queixou-se de que a Polícia marroquina está de novo a atacar os ilegais africanos, a um ritmo diário, com armas de fogo e cães treinados. Que os rouba, os mata, os deporta para o deserto.
Magdalene e Edith também costumam telefonar de Ben Yunes. Dizem que os polícias e grupos organizados de marroquinos fazem incursões no bosque para violarem as mulheres. Elas escondem-se em tocas de javali. Passam dias e noites imóveis, enregeladas, esfomeadas, à espera que o perigo passe.
Mais raramente telefona Miriam, que anda a pedir, com o seu bebé, pelas ruas de Tânger. Está há cinco anos em Marrocos, depois de um ano de viagem, desde a Nigéria, onde os pais a venderam à máfia, que prometeu levá-la para Espanha. Mendigou, prostituiu-se, viveu nas florestas de Tânger, Ceuta e Rabat, mas ainda não conseguiu um lugar nas "pateras" que atravessam o Estreito.
O mês passado telefonou Emmanuel, que vive em Missnana, se tornou pastor pentecostal e tem sida. Dedicou-se a ajudar os companheiros, ensinando-lhes que, segundo a Bíblia, Moisés também atravessou um mar para levar o seu povo à Terra Prometida. Emmanuel dedicou-se a encorajar os companheiros e esqueceu-se de si próprio.
Por toda a costa marroquina há florestas onde milhares de ilegais africanos esperam, em condições desumanas, a oportunidade de atravessar para a Europa. Não têm dinheiro, nem comida, nem medicamentos. Mas têm telemóveis.
Para eles, a comunicação é vital. E a informação. Estão em permanente contacto com as máfias, com as famílias, com os companheiros nas outras "estações" do percurso, com os amigos que chegaram à Europa e lhes poderão enviar dinheiro pela Western Union.
Eles sabem que os ministros dos Negócios Estrangeiros dos países do Sul da Europa e Norte de África estão hoje reunidos no Cairo para discutir a aproximação das margens do Mediterrâneo.
Em contraste com a apatia dos europeus, os milhares de clandestinos para quem o Mediterrâneo é um oceano imenso, intransponível, seguem com toda a atenção as conversas dos ministros.
São, doentes e esfomeados, agarrados aos seus telemóveis, uma estranha e gigantesca manifestação silenciosa a favor da globalização. Da globalização moral.
Zap
Groucho Marx, citado no jornal Público, a propósito da iniciativa da associação norte-americana Tv Turnoff Network, que organiza mais uma semana de abstinência televisiva.
Sobre este assunto, nem tanto ao mar nem tanto à terra. O que importa é não esquecer que o mesmo botão que liga permite desligar. O resto é a sempre complexa gestão do tempo, com tantas tarefas, solicitações e propostas quotidianas.
La Sagrada Familia
Elefantes & Minotauros
Sequência a meio do filme: enquanto um dos adolescentes toca piano (uma sonata de Beethoven), o outro joga, num computador, um jogo que cita directamente o filme anterior do realizador (Gerry, de 2002): figuras virtuais de homens perdidos num deserto branco, como acontecia com os dois protagonistas desse filme. Figuras que matam e morrem, tal como acontecerá com a personagem que joga no computador (um dos adolescentes assassinos). E como aconteceu, de facto, no Liceu de Columbine. Brutalmente. Realmente. Mesmo sabendo que o filme é uma ficção sobre factos, uma invenção, ou manipulação, desses factos, não é possível fazer desaparecer o seu efeito de realidade. Morreram 13 pessoas. E isto não é ficção.
22.4.06
Tesoura de Plástico & Erva Verde
Era uma vez um homem que era corcunda e, por esse motivo, andava sempre dobrado para o chão. Enquanto os outros homens olhavam para a frente, para a linha do horizonte, o homem que era corcunda, enquanto caminhava pelas ruas da cidade, olhava sempre para baixo, para a limitada superfície de terra, ou de asfalto, ou de calçada, que aparecia logo à frente das pontas dos seus sapatos pretos. Assim, num primeiro olhar, o homem que era corcunda parecia estar em desvantagem em comparação com os outros homens, que tinham todos largos horizontes, grandes sonhos e imensos projectos. De facto, o homem que era corcunda não tinha largos horizontes, nem grandes sonhos, nem imensos projectos. Mas, porque passava a vida a olhar para o chão que todos os homens pisam, ele via o que os outros não viam: a erva verde e amarela dos jardins, as pedras irregulares dos passeios, as beatas dos cigarros, os buracos no alcatrão, as faixas de tinta das passadeiras para os peões. Era esse o seu segredo, e o seu trunfo. O seu triunfo: ver, encontrar descobrir, os que os outros não viam. Ou perdiam. Ou nem sonhavam que existisse. Dobrava-se, então, um pouco mais para a frente, até as mãos chegarem ao chão. E, enquanto os outros passavam, mais devagar ou a correr, para cima e para baixo, da esquerda para a direita, da direita para a esquerda, com os olhos postos nos grandes horizontes, com as suas cabeças cheias de grandes sonhos e imensos projectos, o homem que era corcunda, ainda mais inclinado para diante, apanhava do chão uma página de jornal rasgada, ou uma moeda de 5 cêntimos, ou uma tesoura de plástico cor de laranja, que alguma criança esquecera sobre a erva do jardim, depois de terminada a brincadeira do fim da tarde. "Pequenos sinais de vida, minúsculas provas da existência. Restos. Rastos de uma passagem." Pensando isto, o homem que era corcunda guardava tudo num dos bolsos e seguia, devagar, de olhos postos no chão, a caminho de casa. Que é o que fazem todos os homens: procuram, e seguem, incessantemente, mesmo que o não digam, ou saibam, esse caminho para casa. Nisso, corcundas ou não, todos os homens são muito parecidos. Tão parecidos que, no fundo, são quase iguais. Quase.
www.a-braços.com
Me and You and Everyone We Know (again)
Neste filme, que abriu o Indie Lisboa deste ano (em antestreia nacional), há um conjunto de personagens, histórias e situações desenhadas com delicadeza, humor e originalidade. É um filme que aborda as relações humanas, as armadilhas da comunicação, a sexualidade e a arte, com diálogos magníficos e excelentes interpretações. A não perder, quando chegar às salas.
Me and You and Everyone We Know
Richard (John Hawkes), in Me and You and Everyone We Know, Realiz. e com Miranda July, USA, 2005
Relatório Oficial, Com Imagem de Satélite
Cristalizar & Implodir
"- Olhe para isto. Veja como começa a cristalizar. Nitrato de celulose. A mesma coisa que usam na película dos filmes. Isto vai acabar por implodir. Cristalizar totalmente e implodir."
21.4.06
Marian Anderson / Richard Avedon (imagem & sons)
(Mais) Viagens de Sonho
Viagens de Sonho
Entre imagens e sons
Marian Anderson, contralto, New York City, June 30, 1955
Richard Avedon
Gelatin silver print; 97.5 x 109.2 cm
Collection of the artist
20.4.06
Abril de 1974 & Abril de 2006
Café Europa
A legenda da fotografia acima é: Fernando Pessoa, Raul Leal, António Botto e Augusto Ferreira Gomes "em flagrante delitro" no café. Mais precisamente no Café Restaurante Martinho da Arcada, em Lisboa, no Terreiro do Paço. Mas, desta vez, não é o poeta a razão da notícia, antes o Café. Leio na última página do Público de hoje que o "Martinho da Arcada, em Lisboa, foi escolhido como um dos Cafés da Europa e será palco das celebrações do Dia da Europa em Portugal, a 9 de Maio. (...)"
Filosofia da Terra
Onde é que eu pus os meus ténis?
19.4.06
Para Além de John Malkovich Queres ser Vítor Sobral?
Então nunca deixes um tacho com três batatas a cozer, dentro de um pouco de água, enquanto vais à rua fazer alguma coisa (comprar o jornal ou acompanhar o filho mais velho à escola). A água, estranhamente, desaparece e as batatas ficam coladas ao fundo, o qual, entretanto, ganhou uma cor castanha, muitíssimo suspeita. As batatas também ficam castanhas. E, de facto, não parecem boa opção para acompanhar as postas de salmão que esperam, ali, ao lado (com muito ou pouco sal?), por um grelhador já a crepitar. Não estranhes nunca o fumo excessivo, nem o cheiro a esturro. Não contes a ninguém o que se passou (sobretudo, à tua mulher), e escancara por completo as janelas, para que o ar faça o seu trabalho purificador. Separa as partes castanhas das não-castanhas das batatas. Aproveita apenas estas últimas. Não cometas, por favor, erros com o salmão. Depois, abre aquela garrafa de vinho. E serve-te bem dela. Talvez disfarce o sabor exótico que toda a refeição, inesperadamente, ganhou. Acompanha com música. E pimenta.
Gasolinoteca (lista de compras)
Uma das obrigações de uma gasolinoteca séria é a de preservar a memória da arte gasolinográfica. Eis alguns títulos que deveriam constar de uma lista de aquisições a efectuar desde já, antes que o preço do barril chegue aos, sei lá, 75,3 ou 82,6 dólares: