4.4.07

"Ganhar o Pão" (uma aposta ganha)

Algumas notas sobre o 2º programa da série “Portugal, Um Retrato Social”, de António Barreto, que passou esta noite na RTP.

Gostei muito (obrigado pela lembrança, amigo LP!). Uma excelente radiografia (vai mesmo ao osso, literalmente) do “tecido produtivo” de Portugal nos últimos 50 anos, com uma narrativa sóbria e clara, cruzando com mestria o material de arquivo com as imagens da actualidade. Exemplar, a história contada por José Bento dos Santos, da Quinta do Monte D’Oiro, de como o padre se inquietou e espalhou inquietação, pelo facto de ele estar a mandar para o chão as uvas, durante cinco anos, seguindo as indicações técnicas mais avançadas, para alcançar um grande vinho e assim garantir o futuro de um projecto (consta que o vinho é mesmo bom, by the way). Exemplar também (obrigando a uma certa compostura para evitar o vómito), a declaração de Cabrita Neto, em 1978, de como estavam a seguir “um certo critério” na urbanização turística do Algarve, “tendo em conta o ambiente”. Muito bom, retratar o país ouvindo alguns protagonistas mais mediáticos mas também gente como Rosa Passão, a lembrar a atracção que o Barreiro exercia sobre os alentejanos, nos anos 50/60, porque “isto para nós era o Brasil!”. Bons testemunhos dos empresários que "deram a volta", mostrando como é possível vencer o fado de ser pequeno. Dura, mas realista, a este propósito, a declaração de um empresário (de quem não retive o nome) quando diz que "a morte ronda as empresas que só pensam no dia-a-dia". Uma óptima realização de Joana Pontes; excelentes os planos aéreos sobre as vinhas, no Alentejo e o olhar pausado sobre as ruínas das fábricas. As ruínas que deixam a nu a pequenez da maioria dos políticos portugueses dos últimos 30 anos, na definição de uma estratégia para a modernização e formação. Tantas oportunidades perdidas! Boa nota para a música de Rodrigo Leão, como sempre. A. Barreto garantiu mais um telespectador, que ainda não perdeu a esperança de ver o primeiro episódio. Curiosidade final: que audiência terá este programa, em horário nobre do serviço público?

Adenda: encontrei aqui uma pista para começar a esclarecer a dúvida.

5 comentários:

Cristina Gomes da Silva disse...

Boa tarde,
e pensar que foi este Portugal que elegeu o Sr. da Cadeira...

j disse...

Boa tarde! Felizmente, não foi bem uma eleição ;-)

Cristina Gomes da Silva disse...

Pois não, foi um péssimo serviço a nós todos e à democracia. Prefiro vê-lo com um fait-divers, o grande problema reside em cabeças como as do PNR e quejandos, que vêem nestas pseudo-manifestações o húmus para qualquer coisa que lhes dê jeito...

PB disse...

J, sabes se a RTP volta a repetir estes programas noutro dia? Não consegui ver este ...
abs

j disse...

Não faço ideia.