Primeiro poema: "Minibiografia", de Luiza Neto Jorge, in A lume / poesia, Assírio & Alvim, Lisboa, 1993, organização e prefácio de Fernando Cabral Martins, p. 254.
Não me quero com o tempo nem com a moda
Olho como um deus para tudo de alto
Mas zás! do motor corpo o mau ressalto
Me faz a todo o passo errar a coda.
Porque envelheço, adoeço, esqueço
Quanto a vida é gesto e amor é foda;
Diferente me concebo e só do avesso
O formato mulher se me acomoda.
E se a nave vier do fundo espaço
Cedo raptar-me, assassinar-me, cedo:
Logo me leve, subirei sem medo
À cena do mais árduo e do mais escasso.
Um poema deixo, ao retardador:
Meia palavra a bom entendedor.
(Luiza Neto Jorge. 1939-1989.)
*O amor como foda na poesia portuguesa contemporânea. O Ciclópico Acto é um livro que começou por ser um "poema" de Luiza Neto Jorge para um "livro-objecto de Jorge Martins, Lisboa, Livraria-Galeria 111", publicado em 1972.
Sem comentários:
Enviar um comentário