As mãos no volante, abrindo caminho. Estabilizo o conta-quilómetros do peito e disparo o pensamento, veloz. Quanto tempo? Vamos! Saímos da cidade quando todos se guerreiam nos semáforos, tentando chegar primeiro ao semáforo seguinte, tentando chegar ao mini-mercado, antes que feche – falta pão, pode ser do bimbo, torra-se, também fica bom. Algumas horas, dizes. Não importa, vamos. As mãos no volante, indo, no largo prazer de atravessar este mar de palha, para sul; de cruzar a serra lusco-fusco, para norte. Esquece a bússola. Vamos, vamos já! Espera, falta-me acabar isto. Trabalho, compreendes? Sim, impaciência. Vamos logo depois? Sim. Três cuecas, uns pares de meias, duas camisolas lavadas. A pasta dos dentes e a escova e o gel do duche. Leva um casaco, pode arrefecer! Saímos quando todos estiverem a regressar? E o gorro! Ah, que prazer! Sim, só mais um pouco. Voa, imaginação. Desejo. Vou já. Repito: já. As mãos adivinhando o mapa, o silêncio e o sorriso. Escolhe: o mar, a montanha, a embriaguez da planície? Por ali. Vamos? Sim. Até já. Vou apanhar-te. Dá-me um toque, que eu desço. Um saco pequeno, roupa para três-quatro dias, vontade para um mês inteiro. As mãos, adiante, abrindo caminho para a velocidade do desejo. Leva aquele CD. No limite, um pouco para além, sim. Escreve, para matar o tempo. Pum! Escreve, ainda. Vou já. Adiante? Sim. O pára-brisas cinemascope. Deixamos os outros para trás, como se deixássemos a nossa própria sombra, estilhaçada num passeio. Pum! À velocidade do desejo, sem limites. As mãos, nuas, tuas. A rir, com a música alta. E os olhos e a boca. A rir, a rir, a rir! Vou, a imaginar isto tudo, com a música alta, as mãos no volante e a tristeza à pendura. Não dizes nada, amargura? E um saco de roupa para três-quatro dias. E o desejo de nunca nunca mais voltar? Procuro a resposta no caminho. Não quero saber, agora, que portagens ficaram por pagar. Sei que foram muitas. As rodas à berma. Adiante, coração de asfalto. Chora, não faz mal. Acelera!
4.4.07
Coração de Asfalto
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2 comentários:
Sempre abrir, sem derrapagens (como é hábito).
O problema são as "multas", meu amigo. E as derrapagens, sim, muitas.
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