10.2.07

nunca nos despedimos completamente

(Ginjal, 2003)

Escuto passos no empedrado e a névoa que desce sobre os telhados, como um lençol. Dirás que é uma imagem poética mas é apenas a rua, quase vazia, em noite de chuva. Recolho algumas palavras desta mesa onde nos temos encontrado, a horas ímpares, como dizer que “nunca nos despedimos completamente, mesmo quando partimos sem retorno”. Releio os versos de João Cabral de Melo Neto:

“Não há guarda-chuva
contra o amor
que mastiga e cospe como qualquer boca,
que tritura como um desastre."

Escolho uma fotografia: a nossa rive gauche, sonho de artistas, spray sobre ferrugem. Escuto os meus próprios passos sépia que se afastam pelo empedrado, lajes irregulares como os dias. E a névoa, hálito húmido, desejo desenhado pela boca. Lençol, pele por um triz.

4 comentários:

Mónica (em Campanhã) disse...

ainda não tinha deixado aqui dito que te reconheço a escrita de há vinte anos, a distribuição das palavras, um ar que elas respiram.

que bom ter tropeçado aqui nesta ponte.

j disse...

Não estarás a fazer confusão com o LP? :-)

De qualquer modo, foi bom teres tropeçado, fazendo a ponte com a linha do norte.

Mónica (em Campanhã) disse...

não, não estou. também me lembro de te ler no DN

j disse...

boa memória!