24.2.07

Hot Dog

para a P., sem malícia

O primeiro a dobrar a esquina foi o salsicha. Era preto, com umas manchas castanhas e atropelava-se nas pequenas patas, imprimindo-lhes o máximo de velocidade permitida pelo seu código genético, enquanto as orelhas esvoaçavam ao vento. Os olhos, esbugalhados, denunciavam desorientação. Logo de seguida, surgiu o pão: meia baguete, com um elegante corte a meio, pulando sobre a calçada, com o inconfundível estilo de um participante numa corrida de sacos de batata. O desenlace foi fulminante, como nos documentários da National Geographic: o salsicha tropeçou, mesmo em frente da montra da florista, e a baguete lançou-se sobre ele, abrindo e fechando as badanas, numa temível tenaz de trigo integral. No mesmo instante, um homem desdobrou-se na esquina, em passo firme. Chapéu de abas, óculos escuros, longo casaco de cabedal, botas texanas e, numa das mãos enluvadas, uma embalagem de mostarda.

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