para a C., sem malícia
No relatório policial ficou escrito que as bonecas viram tudo, com aqueles perturbadores olhos amarelos, a partir de uma prateleira do móvel da sala. À mesa, os homens trocavam piadas sobre a classificação da Primeira Liga e discutiam, animadamente, a viagem que iriam iniciar na manhã seguinte. A anfitriã tinha alegado uma indisposição para não os acompanhar na sopa de cação, partilhando uma salada ligeira com a amiga. Como sempre, os homens sorviam, gulosos, o caldo alentejano, trincando, deliciados, os pequenos pedaços de peixe. Pelo que se sabe do relatório, era um jantar de despedida, antes deles se fazerem à estrada na velha pick-up. Uma semana inteira sozinhos, em busca dos famosos gambuzinos!, exclamavam, quase eufóricos, repetindo a sopa e elogiando a cozinheira. No final, ela agradeceu, perguntando quem tomava café. Já na cozinha, ligou a máquina, alinhou as chávenas e aproveitou para guardar no armário o frasco do poderoso laxante.
1 comentário:
Costa a costa?
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