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"ELOGIO BARROCO DA BICICLETA
Redescubro, contigo, o pedalar eufórico
pelo caminho que a seu tempo se desdobra,
reolhando os beirais - eu que era um teórico
do ar livre - e revendo o passarame à obra.
Avivento, contigo, o coração, já lânguido
das quatro soníferas redondas almofadas
sobre as quais me entangui e bocejei, num trânsito
de corpos em corrida, mas de almas paradas.
Ó ágil e frágil bicicleta andarilha,
ó tubular engonço, ó vaca e andorinha,
ó menina travessa da escola fugida,
ó possuída brincadeira, ó querida filha,
dá-me as asas - trrrim! trrrim! - pra que eu possa traçar
no quotidiano asfalto um oito exemplar!"
(Alexandre O'Neill, in "A Saca de Orelhas", Poesias Completas 1951/1986, IN-CM, Lisboa, 1990, 3ª edição, revista e aumentada, p. 370.)
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