21.2.07

Bicicletas na Poesia Portuguesa Contemporânea (poema hors-série de O'Neill)


"ELOGIO BARROCO DA BICICLETA

Redescubro, contigo, o pedalar eufórico
pelo caminho que a seu tempo se desdobra,
reolhando os beirais - eu que era um teórico
do ar livre - e revendo o passarame
à obra.

Avivento, contigo, o coração, já lânguido
das quatro soníferas redondas almofadas

sobre as quais me entangui e bocejei, num trânsito

de corpos em corrida, mas de almas paradas.

Ó ágil e frágil bicicleta andarilha,

ó tubular engonço, ó vaca e andorinha,

ó menina travessa da escola fugida,

ó possuída brincadeira, ó querida filha,


dá-me as asas - trrrim! trrrim! - pra que eu possa traçar

no quotidiano asfalto um oito exemplar!"


(Alexandre O'Neill, in "A Saca de Orelhas", Poesias Completas 1951/1986, IN-CM, Lisboa, 1990, 3ª edição, revista e aumentada, p. 370.)

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