21.3.06

Que silêncio! De palavras?

K. nota que Alguém nos deu as Vozes, e as Línguas, e as Palavras. Mas nota também que nessa dádiva há uma espécie de condenação: Alguém fez desaparecer o silêncio. Alguém que precisa de nos ouvir? Alguém que se escuta em nós, através de nós? Com todas as Vozes, e Línguas, e Palavras - Alguém ainda escuta? Como falar? E como escutar? É em silêncio que K. regista estas palavras: um silêncio impossível, pois ouvem-se os ruídos longínquos de um carro que atravessa a noite, muito ao fundo, ou a toada mínima da fonte de alimentação do computador, bem perto de si. Os seus dedos carregam nas teclas negras e K. ouve essa espécie de música que acompanha a escrita, que é a escrita. Assim, no silêncio, K. descobre a sua vocação de pianista.