22.3.06

Se

K. reflecte sobre a velha questão aristoteliana da tragédia (da literatura) e da história (deixa de lado, por falta de espaço, a filosofia). Ou seja, a estafada mas sempre pertinente oposição entre o campo do possível e o campo do factual; entre o que poderia ter acontecido e o que efectivamente aconteceu. K. vê-se empurrado para esta reflexão por força do real, quer dizer, porque sofre de dor de cotovelo: neste momento, Porto e Sporting disputam um lugar na Final da Taça de Portugal em futebol. Este jogo não lhe interessa absolutamente nada, visto que o Benfica já não se encontra em prova. Mas, se o Vitória de Guimarães tivesse saído derrotado do jogo dos quartos-de-final no novo Estádio da Luz e, por consequência lógica, o Benfica jogasse amanhã em Setúbal, K. estaria, de certeza, em frente ao televisor, desejoso de conhecer, em primeira mão e em directo, o previsível adversário do seu clube do coração (isto, se este conseguisse ultrapassar o Vitória de Setúbal, "vingando" a derrota no Jamor, na época transacta). Como nada disto é do campo do factual, K. escapa para o campo do possível, mas com regresso à história: nesta medida, se o possível fosse o factual, nenhum dos três ou quatro últimos posts de K. teriam sido escritos e aqui apresentados. E K. poderia dizer como Garrett: "Eu sacrifico às musas de Homero, não às de Heródoto: e quem sabe, por fim, em qual dos dois altares arde o fogo da melhor verdade."

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