K. escuta Laurie Anderson enquanto corrige testes de alunos. As palavras amontoam-se à frente dos seus olhos. Em vários tons de azul ou preto.
K. sente-se sufocar. São sufocantes, as palavras. Significa que sufocam. É nesse momento que
K. sonha, de olhos abertos, com a página em branco. Essa página é a sua salvação. Então
K. olha em frente e vê a página em branco. Mas essa página é ainda mais sufocante que as palavras. Sufoca, essa página. É a sufocante página em branco. Vazia.
K. desvia os olhos dessa página e volta às respostas dos seus alunos. As caligrafias azuis e pretas, de súbito, tornam-se legíveis. Laurie Anderson diz:
Paradise is exactly like
Where you are right now
Only much much better.
E estas são as últimas palavras da canção. Mas as últimas palavras não existem. Sim: a linguagem é um virus. Ou um vício?
1 comentário:
Coragem, K. Gosto muito desta tua "técnica mista". As últimas palavras são também as primeiras palavras das palavras seguintes. Há sempre um antes e um depois. E um vício, claro!
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