21.3.06

O paraíso é exctamente como

K. escuta Laurie Anderson enquanto corrige testes de alunos. As palavras amontoam-se à frente dos seus olhos. Em vários tons de azul ou preto. K. sente-se sufocar. São sufocantes, as palavras. Significa que sufocam. É nesse momento que K. sonha, de olhos abertos, com a página em branco. Essa página é a sua salvação. Então K. olha em frente e vê a página em branco. Mas essa página é ainda mais sufocante que as palavras. Sufoca, essa página. É a sufocante página em branco. Vazia. K. desvia os olhos dessa página e volta às respostas dos seus alunos. As caligrafias azuis e pretas, de súbito, tornam-se legíveis. Laurie Anderson diz:

Paradise is exactly like
Where you are right now
Only much much better.
E estas são as últimas palavras da canção. Mas as últimas palavras não existem. Sim: a linguagem é um virus. Ou um vício?

1 comentário:

j disse...

Coragem, K. Gosto muito desta tua "técnica mista". As últimas palavras são também as primeiras palavras das palavras seguintes. Há sempre um antes e um depois. E um vício, claro!