11.9.06

NYC

Estou em frente à televisão e choro, entre a CNN e a Sky News. As lágrimas escorrem-me pela cara, soluço. Admito que esteja frágil por outros motivos mas sinto que estou verdadeiramente a partilhar a dor com os familiares das vítimas dos ataques contra o World Trade Center. Sinto-a fundo, enquanto vejo agora as pessoas que descem a rampa da Zona Zero, com flores, alguns retratos, óculos escuros, almas sombrias (outra vez) num dia de sol; enquanto vejo e oiço os familiares a lerem os nomes dos mortos: invocação, saudade, homenagem. A leitura do livro 102 Minutos, durante a semana passada, deve ter a sua quota parte de responsabilidade nesta sensibilidade mas o que vos queria dizer é que de nada adiantam os discursos, as análises; bem sei que há muitos mortos, inocentes, por todo o mundo, vítimas da insaciável gula dos senhores de Washington, etc, mas não é isso que me interessa agora. Eu sou do Oeste. Eu sou de uma cultura de tolerância, de divergência. Eu sou daqui, deste cruzamento de culturas, de inquietações, de sonhos e pesadelos. Eu sou nova-iorquino. Eu quero respeitar o outro, tanto quanto peço que o outro me respeite a mim. Quero poder discordar, de forma pacífica. Rejeito todos os fundamentalismos. Não consigo imaginar o choque brutal que rasgou tantas vidas, tantas famílias há cinco anos. Alguns familiares escrevem nomes, parece que numas tábuas de madeira, junto a um pequeno tanque onde vão flutuando (cada vez mais) flores. Não quero ser ingénuo: bem sei que há muito de encenação e política neste cerimonial mas tenho a certeza que há emoções soltas ao vento, genuínas, puras. Claro que podiam poupar-me à imagem algo simiesca do senhor presidente em pose de respeito, junto de alguns bombeiros da cidade – dispensava a azia. É aqui que me secam as lágrimas. Mas não deixo de me sentir nova-iorquino. Um pouco mais do que o senhor Bush, se me permitem.

1 comentário:

PB disse...

Percebo-te perfeitamente.
Ontem vi n programas sobre o 11/9.
Na Sic, RTP1 e RTPN ... e as lágrimas idênticas às tuas também me percorreram as faces ...
Uma brutalidade a que não se deve dar tréguas ...

Um abraço ...