10.9.06

As Chaves de Casa (Gianni Amelio, 2004)



Foi um texto de João Lopes, no "6ª" do DN de há umas (longas) semanas atrás, que chamou a minha atenção para o filme. Era um belo texto e cumpriu a sua função: deixou-me com muita vontade de conhecer o objecto que o motivou. Acabei de o ver, o filme. E é belíssimo, e muito triste. Um pai, Gianni, encontra, pela primeira vez, um filho de 15 anos. Com algumas deficiências motoras e certa instabilidade nervosa e emocional, Paolo foi abandonado pelo pai logo depois do nascimento (ficamos a saber que o parto foi a causa de morte da mãe de Paolo). Pai e filho conhecem-se no momento deste iniciar um tratamento num Hosptital de Berlim. Viajam de comboio da Itália até ao coração da Europa (os comboios estão sempre a chegar e a partir, trazendo e levando pessoas com as suas pequenas histórias de sofrimento e alegria). Paolo começa os tratamentos e vamos assistindo ao modo como ele e Gianni se vão conhecendo, encontrando e desencontrando, através de acontecimentos tão simples como dormir no hotel, tomar um banho ou comer um bife com batatas fritas. Tudo isto filmado com sensibilidade, justeza e realismo, evitando-se sempre a queda na exploração fácil da comoção ou da compaixão do espectador. Gianni Amelio consegue um filme marcado pela ideia de respeito: respeito pela história magnífica, pelas personagens, pelos actores (espantoso Andrea Rossi a fazer de Paolo!). Sem moralismos, com franqueza e frontalidade. O que, em certos momentos, leva o filme a atingir graus elevados de crueza e desassombro: por exemplo, aquele em que, numa estação de metro, a personagem de Charlotte Rampling, magnífica de contenção, depois de 20 anos a tratar com ternura e amor maternais inexcedíveis Nadine, a filha deficiente, se pergunta "por que não morre?" ela... O filme termina, depois, nos campos verdejantes da Noruega, para onde Gianni leva o filho, numa espécie de fuga que vai ter que terminar com o regresso a casa (a Itália, à normalidade das vidas e dos acontecimentos quotidianos, às famílias estabelecidas de pai e filho, necessariamente desestabilizadas pelo dado novo da sua nova relação...) que já não vemos. O pai chora sob os céus pesados da Noruega e é o filho que o acalma: "Se não chorares, deixo-te jogar PlayStation!" E isto é dito com toda a sinceridade que se tem aos 15 anos. Último ponto: a esplendorosa canção do genérico final: "Deus do Fogo e da Justiça", na voz absolutamente do outro mundo de Virgínia Rodrigues, perfeita desconhecida para mim. Diz-vos alguma coisa? "Quieto, falará!" Ouçamos, então.

1 comentário:

j disse...

O nome da senhora não me diz nada mas uma pequena pesquisa abre pistas, por exemplo aqui:

http://www.cliquemusic.com.br/artistas/virginia-rodrigues.asp

Quanto ao filme, fico cheio de vontade de o ver, mas onde? DVD?