Foi um texto de João Lopes, no "6ª" do DN de há umas (longas) semanas atrás, que chamou a minha atenção para o filme. Era um belo texto e cumpriu a sua função: deixou-me com muita vontade de conhecer o objecto que o motivou. Acabei de o ver, o filme. E é belíssimo, e muito triste. Um pai, Gianni, encontra, pela primeira vez, um filho de 15 anos. Com algumas deficiências motoras e certa instabilidade nervosa e emocional, Paolo foi abandonado pelo pai logo depois do nascimento (ficamos a saber que o parto foi a causa de morte da mãe de Paolo). Pai e filho conhecem-se no momento deste iniciar um tratamento num Hosptital de Berlim. Viajam de comboio da Itália até ao coração da Europa (os comboios estão sempre a chegar e a partir, trazendo e levando pessoas com as suas pequenas histórias de sofrimento e alegria). Paolo começa os tratamentos e vamos assistindo ao modo como ele e Gianni se vão conhecendo, encontrando e desencontrando, através de acontecimentos tão simples como dormir no hotel, tomar um banho ou comer um bife com batatas fritas. Tudo isto filmado com sensibilidade, justeza e realismo, evitando-se sempre a queda na exploração fácil da comoção ou da compaixão do espectador. Gianni Amelio consegue um filme marcado pela ideia de respeito: respeito pela história magnífica, pelas personagens, pelos actores (espantoso Andrea Rossi a fazer de Paolo!). Sem moralismos, com franqueza e frontalidade. O que, em certos momentos, leva o filme a atingir graus elevados de crueza e desassombro: por exemplo, aquele em que, numa estação de metro, a personagem de Charlotte Rampling, magnífica de contenção, depois de 20 anos a tratar com ternura e amor maternais inexcedíveis Nadine, a filha deficiente, se pergunta "por que não morre?" ela... O filme termina, depois, nos campos verdejantes da Noruega, para onde Gianni leva o filho, numa espécie de fuga que vai ter que terminar com o regresso a casa (a Itália, à normalidade das vidas e dos acontecimentos quotidianos, às famílias estabelecidas de pai e filho, necessariamente desestabilizadas pelo dado novo da sua nova relação...) que já não vemos. O pai chora sob os céus pesados da Noruega e é o filho que o acalma: "Se não chorares, deixo-te jogar PlayStation!" E isto é dito com toda a sinceridade que se tem aos 15 anos. Último ponto: a esplendorosa canção do genérico final: "Deus do Fogo e da Justiça", na voz absolutamente do outro mundo de Virgínia Rodrigues, perfeita desconhecida para mim. Diz-vos alguma coisa? "Quieto, falará!" Ouçamos, então.
10.9.06
As Chaves de Casa (Gianni Amelio, 2004)
Foi um texto de João Lopes, no "6ª" do DN de há umas (longas) semanas atrás, que chamou a minha atenção para o filme. Era um belo texto e cumpriu a sua função: deixou-me com muita vontade de conhecer o objecto que o motivou. Acabei de o ver, o filme. E é belíssimo, e muito triste. Um pai, Gianni, encontra, pela primeira vez, um filho de 15 anos. Com algumas deficiências motoras e certa instabilidade nervosa e emocional, Paolo foi abandonado pelo pai logo depois do nascimento (ficamos a saber que o parto foi a causa de morte da mãe de Paolo). Pai e filho conhecem-se no momento deste iniciar um tratamento num Hosptital de Berlim. Viajam de comboio da Itália até ao coração da Europa (os comboios estão sempre a chegar e a partir, trazendo e levando pessoas com as suas pequenas histórias de sofrimento e alegria). Paolo começa os tratamentos e vamos assistindo ao modo como ele e Gianni se vão conhecendo, encontrando e desencontrando, através de acontecimentos tão simples como dormir no hotel, tomar um banho ou comer um bife com batatas fritas. Tudo isto filmado com sensibilidade, justeza e realismo, evitando-se sempre a queda na exploração fácil da comoção ou da compaixão do espectador. Gianni Amelio consegue um filme marcado pela ideia de respeito: respeito pela história magnífica, pelas personagens, pelos actores (espantoso Andrea Rossi a fazer de Paolo!). Sem moralismos, com franqueza e frontalidade. O que, em certos momentos, leva o filme a atingir graus elevados de crueza e desassombro: por exemplo, aquele em que, numa estação de metro, a personagem de Charlotte Rampling, magnífica de contenção, depois de 20 anos a tratar com ternura e amor maternais inexcedíveis Nadine, a filha deficiente, se pergunta "por que não morre?" ela... O filme termina, depois, nos campos verdejantes da Noruega, para onde Gianni leva o filho, numa espécie de fuga que vai ter que terminar com o regresso a casa (a Itália, à normalidade das vidas e dos acontecimentos quotidianos, às famílias estabelecidas de pai e filho, necessariamente desestabilizadas pelo dado novo da sua nova relação...) que já não vemos. O pai chora sob os céus pesados da Noruega e é o filho que o acalma: "Se não chorares, deixo-te jogar PlayStation!" E isto é dito com toda a sinceridade que se tem aos 15 anos. Último ponto: a esplendorosa canção do genérico final: "Deus do Fogo e da Justiça", na voz absolutamente do outro mundo de Virgínia Rodrigues, perfeita desconhecida para mim. Diz-vos alguma coisa? "Quieto, falará!" Ouçamos, então.
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1 comentário:
O nome da senhora não me diz nada mas uma pequena pesquisa abre pistas, por exemplo aqui:
http://www.cliquemusic.com.br/artistas/virginia-rodrigues.asp
Quanto ao filme, fico cheio de vontade de o ver, mas onde? DVD?
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