1.3.07

Podia Ser uma Arte da Sobrevivência

À partida parecia-lhe possível dizer que usava as palavras; o que se passava, porém, era que, escrevendo, se sentia obrigado a reconhecer que nada do que dizia era verdadeiramente seu, porque nenhuma palavra lhe pertencia. "As palavras são o lastro comum, o que é de todos", diziam-lhe os amigos. Por isso ele escrevia aceitando que escrevia com as palavras dos outros, procurando torná-las, digamos assim, suas. Esforço vão, claro! o que era por demais evidente para toda a gente, a começar por ele mesmo. Cada texto escrito revelava-se o eco mais ou menos palpável de outros textos... "Sim, o melhor é remeter-me ao silêncio", pensou ele, como se tivesse encontrado a solução. Na verdade, "remeter-se ao silêncio" era apenas uma metáfora estafada (mais uma!) a que não conseguiu escapar. "Como é difícil escapar às metáforas!", pensou então ele. Se é que se pode dizer que isto seja um pensamento.


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