Ao contrário de muitos que escreviam porque sabiam bem de onde vinham e para onde iam (tinham encontrado a sua "voz própria", diziam), ele não sabia de onde vinha, nem para onde ia. Na verdade, ele não sabia nada. Nada de nada. Embora saber isto já fosse alguma coisa.
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2 comentários:
É a procura que nos faz mover, não é?
Este texto fez-me lembrar um livro que li de clarice lispector, A hora da estrela
"...Macabéa, a protagonista: (...) vida primária que respira, respira, respira. (...) dormia de combinação de brim com manchas bastante suspeitas de sangue pálido. (...) ela era incompetente. Incompetente para a vida. Faltava-lhe o jeito de se ajeitar. (...) Não sabia que era infeliz. (...) Assoava o nariz na barra da combinação. Não tinha aquela coisa delicada que se chamava encanto. (...) A única coisa que queria era viver. Não sabia para que, não se indagava. (...) A mulherice só lhe nasceria mais tarde porque até no capim vagabundo há desejo de sol. (...) sonhava estranhamente em sexo, ela que de aparência era assexuada. Quando acordava se sentia culpada sem saber por que, talvez porque o que é bom devia ser proibido. (...) Não se tratava de uma idiota, mas tinha a felicidade pura dos idiotas. (...) Ela era subterrânea e nunca tinha tido floração. Minto: ela era capim..."
"...A medida que crescia, Macabéa aprendia que "vida é assim: aperta-se o botão e a vida acende". Só que ela não sabia qual era o botão de acender. Nem se dava conta de que vivia numa sociedade técnica onde ela era um parafuso dispensável. ( observe a atualidade da crítica feita pela autora neste trecho ) .Mas uma coisa descobriu inquieta: já não sabia mais ter tido pai e mãe, tinha esquecido o sabor. "Ela falava sim, mas era extremamente muda"..."
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