20.12.06

O serão do escritor

Agarrou a palavra madeira e esculpiu-lhe o rosto de outra palavra. Lentamente, surgiram os contornos, as curvas, as rugas, as imprecisões de sentido. De seguida, escolheu uma pedra e continuou o labor. Com o ferro quente, moldou mais um verbo, para temperar a acção. As mãos, molhadas, mergulharam depois na palavra barro, inventando homens, mulheres, bichos extraordinários e outros nomes. Sobre a banca, foram-se acumulando farpas, lascas, estilhaços, alguma lama e uma indecifrável poeira, a que se juntariam mais tarde algumas gotas de sangue. Já de madrugada, com os dedos entrapados, imobilizou o pé na roda, pousou o cinzel, o escopro e o martelo, dando por terminada mais uma história.

Antes de se dirigir à sala, passou pela cozinha, abastecendo o copo de whisky com duas pedras de gelo. Escolheu um DVD, colocou-o dentro da gaveta retráctil do aparelho e recostou-se no sofá. Carregou no botão play do comando e preparou-se para saborear um novo episódio de Deadwood.

2 comentários:

j disse...

É o que dá ter amigos inspiradores! ;-)

PB disse...

a História do Oeste é riquíssima e inspiradoura... a nossa história é tb riquíssima ... é pena não se fazerem séries a sério sobre o João Brandão, Zé do Telhado, D. Afonso Henriques e por aí fora ... é pena ...