22.12.06

A voz das árvores

O cemitério é pequeno e novo, ainda com muita terra rasa, como alguns olhares que se cruzam. Tem uma árvore em cada canto. Enquanto o padre diz uma oração, olho essas árvores e recordo os sinais que Fernando Alves semeou na telefonia, no dia seguinte ao telefonema que encheu de tristeza a nossa casa das notícias. Lembrava ele “a voz que entrelaça notícias, como se dissesse árvores, árvores apenas, sem adornos”. Quatro árvores, uma em cada canto, e um estúpido buraco no chão. Daí a pouco, outra vez, o arrepio da terra na madeira, engolindo, definitivamente, aquela “voz doce que entrelaça notícias, enquanto se faz ave para longe, para o absurdo longe”.

Este lugar chama-se Rostos. Lembro-me que o de Leonor Colaço ruborizava, às vezes, nas maçãs de pele muito clara. Rostos. A partir de hoje, estes terão sempre uma voz doce, entrelaçando árvores, “árvores apenas, sem adornos”.

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