25.12.06

Esta manhã

Há, neste amanhecer, um silêncio feito de cobertores puxados por cima da cabeça, aconchegando sonhos e abraços ternos.

Há embrulhos desfeitos pela casa, fitas e risos coloridos. O gesto é tudo e outros jogos nocturnos tombaram de cansaço feliz, eram o quê? umas três, quatro da madrugada? Sobrou comida (ainda bem!) e um rol de histórias antigas, sempre repetidas com o mesmo entusiasmo.

Repara como a criança agarra a boneca nova, neste silêncio feito de lençóis mornos e mantas pesadas, aconchegando princesas e dragões. Nota como esta, um pouco mais velha, até sonha com o momento em que vai pular da cama para voltar a jogar mil vezes o jogo novo – mas dorme ainda. E adiante, ao fundo do corredor, como a cama mais larga é ainda maior, no aperto carinhoso de dois corpos.

Deslizo pela casa e espreito, numa janela, a rua deserta. Apenas pássaros e sinos, ao longe. Percorro os quartos vazios, imaginando as respirações da manhã mais tranquila do ano e sinto um dorido e quase febril desejo de fazer nascer uma família.