22.12.06

2006

Gosto das edições de balanço de final de ano dos jornais e das revistas, forma de acertar contas e pesar um certo período de tempo que foi meu (nosso) e passou. O suplemento "6ª" do DN apresentou hoje as suas escolhas de 2006 de filmes, discos e livros, revisão oportuna da matéria dada, não isenta de riscos e equívocos, mas por isso também interessante. Dois exemplos:
primeiro, na lista dos "dez melhores DVDs «clássicos» lançados em 2006" (p.22) não aparece nenhum dos filmes de Visconti (Obssessão, A terra Treme, etc) ou de Rossellini (Roma, Cidade Aberta ou Viagem na Itália), editados nesta última quinzena de Dezembro; fica também de lado a edição de sonho da dupla visão de Scorsese sobre o cinema americano e o cinema italiano, acabadinha de chegar aos escaparates (confirmem no suplemento concorrente "Y" do Público de hoje!): consequência de fazer balanços do ano antes do fim do ano;
segundo, nas escolhas dos livros, elas surgem aglutinadas entre ficção (nacional/internacional) e não ficção, o que é uma opção absolutamente estrambólica e indevida. Então "ficção" não é designação para obra ficcional, de maior ou menor desenvolvimento/aprofundamento (romance, novela, conto...) da matéria narrativa, com personagens, intriga (ainda que rarefeita ou escassa), narrador, tempo e espaço? Pois parece que não! Na categoria "ficção nacional" (p.p. 28/29), pasme-se, surgem nada menos, nada mais do que 5 livros de... poesia! Obras de Fiama, António Osório, Vasco Graça Moura, F. Echevarria e Gastão Cruz, todos altíssimos poetas, de todos apenas Graça Moura, que eu saiba, com obras de ficção publicadas. País de poetas, mas não de ficcionistas, Portugal! Pois. De resto, o equívoco mantém-se na categoria da "ficção internacional" (p. 30), que inclui 3 livros de poesia: Harmónio de W. Stevens, Residência na Terra de Neruda e Paraíso Perdido, de Milton (pese embora se possa alegar que o clássico de Milton seja um poema épico, portanto, essencialmente narrativo... não sendo prudente, entretanto, sobrepor o ficcional e o narrativo). Critérios muito amplos para definir "ficção", portanto. Mas talvez isto não importe assim tanto; talvez as categorias sejam todas falíveis (umas mais que outras, valha a verdade!); obviamente, o que importa é ler, e ler livremente: a poesia como ficção, o romance como poema, o drama como reportagem... talvez; o que é que acham?
Quanto a mim, aproveito agora o balanço dos balanços e apresento, também, descaradamente as minhas 6 escolhas de 2006. Cá vão elas:
1) livro de poesia do ano: Voz Consonante, traduções de poesia de António Ramos Rosa;
2) outro livro do ano: Pós-Guerra. História da Europa desde 1945, de Tony Judt;
3) série televisiva do ano (surpresa): Deadwood, (primeira e segunda temporadas), de David Milch (que ninguém parece ter descoberto ainda!)
4) outra série televisiva do ano: A Feira da Magia, (segunda temporada) de Daniel Knauf (que toda a gente já descobriu!);
5) filme do ano: os dois filmes-documentos do realizador austríaco que vimos (?) no festival de cinema independente de Lisboa sobre sobreviver nas megacities e trabalhar sabe Deus como e onde!;
6) blogue do ano: este, o nosso, aqui, no umbigo. Bingo!

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