29.8.06

Voo 93 (de Paul Greengrass)


Não é um grande filme. Talvez seja preciso mais tempo para se fazer um grande filme sobre o tema. Ou um grande cineasta (como Oliver Stone? Aguardemos por World Trade Center...). Mas consegue ser suficientemente interessante por uma razoável quantidade de razões. Desde logo, por optar, na primeira parte, por um olhar realista, quase documental, sobre os acontecimentos do 11/09 a partir do ponto de vista das autoridades aeronáuticas, militares e políticas americanas, mostrando a sua incapacidade para responder, de forma estruturada e coordenada, às acções terroristas daquele dia. O império com pés de barro em toda a linha! (aguardemos também os próximos desenvolvimentos sobre os acontecimentos posteriores em Nova Orleães; há notícias, por exemplo, de trabalho de Spike Lee nesse campo...). Depois, há o momento em que revemos as imagens televisivas reais da CNN, tantas vezes vistas mas sempre tremendas, arrepiantes, assustadoras: o fumo na Torre Norte; a aproximação e embate do segundo avião na Torre Sul... Os momentos mais fortes e intensos do filme são esses (com Greengrass a sublinhar o impacto das imagens nas pessoas - controladores aéreos, militares, etc - com momentos de silêncio ensurdecedor), o que sugere que a "ficção", neste caso, dificilmente terá a mesma força que os acontecimentos reais. Finalmente, na segunda parte do filme, o realizador propõe uma versão sobre o modo como se terão passado as coisas naquele dia com o voo 93 da United Airlines, o único dos aviões sequestrados que não atingiu o alvo. É uma versão baseada nos registos das chamadas telefónicas feitas pelos passageiros a bordo, necessariamente breves, emocionadas a um ponto difícil de calcular, lacunares. Talvez esteja aqui uma das razões para um certo aspecto de projecto falhado que o filme tem, já apontado por João Lopes na sua crítica no último "6ª" do Diário de Notícias: "personagens bidimensionais, ilustração "literal" dos factos conhecidos"(p. 26), opção que impede uma aproximação efectiva, profunda, do espectador às personagens (que, de facto, quase não chegam a existir). Teria sido necessário assumir o filme como filme, isto é, como ficção, para que os resultados nesta segunda parte fossem outros, cinematograficamente relevantes. De qualquer modo, ficamos com uma imagem final dos passageiros que faz justiça à sua coragem e capacidade de sacrifício, enfrentando, de corpo aberto, os terroristas. E essas virtudes não deixam de nos colocar questões: seriamos capazes de fazer o mesmo? Como reagiríamos numa situação de crise desta dimensão? Questões que sublinham o heroísmo das pessoas que preferiram agir em vez de ficar, passivamente, à espera que as coisas acontecessem. Só se lamenta que o filme não nos permita conhecê-las verdadeiramente...

2 comentários:

j disse...

Quero ver se o espreito ainda esta semana. Acredito que nenhum filme será capaz de nos agarrar pelos colarinhos como a realidade nos fez, naquele dia 11 de Setembro de 2001. Ainda se lembram? Ufa!

PB disse...

Não dá para esquecer aquelas imagens ... Nem as do Ruanda ... nem as da Bósnia ... nem as de Timor ...