Há um hálito de suor no corpo, afagado pela vaga brisa que se insinua pela janela aberta, ainda antes de abrir os olhos. Como (quase) sempre, não me recordo do que sonhei – sonhamos sempre, não é? Pode ter sido um pesadelo terrível ou a mais doce das efabulações, nunca o saberei. Será que importa?
Não sei muito bem porque escrevo, ainda com um resto de café na primeira chávena do dia. Talvez seja uma forma de ganhar balanço para aparar a barba: um gesto concreto, prático, com efeitos visíveis. Como se fosse preciso uma dose de fantasia antes de enfrentar o real (as primeiras notícias da manhã não passaram de um quase zumbido). Há muita folga nos meus dias, que eu posso preencher como quiser. Tenho listas espalhadas por blocos, pequenos cadernos, folhas soltas, frases sublinhadas em livros. Tenho mil desejos e pés de chumbo. Escrevo nesta folha: descomplicar. Bebo o resto do café, levanto-me e dirigo-me à casa de banho. Empunho a máquina, carrego no botão e corto, rente, a melancolia.
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