O que é feito da revolução? “Poderemos fazer a revolução para o proletariado, contra a vontade do proletariado?”, pergunta-se (lembra-se), a dado passo, no filme Os Amantes Regulares, em pleno Maio de 68. Não, Philippe Garrel não fez um filme político (ou será que fez?). Apresenta-nos um filme feito com “a câmara no lugar do coração”, como ele próprio terá dito. E não será só pelo facto do filho (Louis Garrel) ser o protagonista masculino e o pai (Maurice Garrel) aparecer numa cena, estranha mas bela. Lendo crónicas e biografias, ficamos a saber que o realizador tinha 20 anos em Maio de 68. Será possível regressar a um tempo desses sem ser com o coração nas mãos?
Na primeira parte, a câmara demora-se nas barricadas de rua, filmadas com um ritmo a que os nossos olhos não estão habituados, “como insólitos sketches de reportagem, dilatados até uma duração insensata, em tudo e por tudo contrária ao primarismo simbólico da maior parte dos olhares televisivos”, escreve João Lopes no DN. O filme é longo (3 horas) e exigente.
Apagada a chama da revolução colectiva (embora, perto do fim, uma personagem lembre que as utopias são imortais) resta o desejo de uma (r)evolução pessoal, onde o amor é herói e vilão. François e Lilie jogam-se nesse turbilhão onde há inocência, fome de sexo e do mundo, ambição, frustração, alegrias e dor. Uma procura da felicidade, que se revela “a preto e branco” como titula a crónica de João Lopes, lembrando uma frase de Maupassant: “A felicidade não é alegre”. Também por isso, a fotografia B&W, com muito grão e contraste vincado, é digna de nota (foi premiada no último Festival de Veneza). A actriz Clotilde Hesme tem momentos de feitiço.
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