Há um rumor, chamemos-lhe assim, que cresce e estala o corpo. A pele bronzeada destas mãos, por exemplo. O tempo que a prega de pele, suspensa por instantes entre o polegar e o indicador, demora a regressar à posição original. As maçãs que o sorriso acaricia, sulcadas pela memória do sal. Um rumor que se instala no corpo, gemendo, cordame de navio antigo.
Experimento escrever mulher, seis letras torneadas pelo desejo.
Ainda inebriado pelo perfume da hortelã, escrevo silêncio, boca na boca do texto. Deixo as mãos, tisnadas, de unhas roídas e veias salientes, aqui suspensas. Um jogo de sombras sobre a pele em branco. Dispo-te de palavras e acaricio todos os teus sentidos. É outro, então, o rumor – música de sílabas desalinhadas: um pulsar de tambor; cordas tensas; um piano circular, em crescendo; cordas ritmadas; o piano intenso, intenso, numa teia hipnótica e depois mais calmo, envolto num zumbido; o tambor, pulsando ainda; sopros murmurados; um rumor, harpejando, que busca o silêncio, já o suor arrefece a pauta.
7 comentários:
Bem me parecia que estás metido em trabalhos!
Horas nocturnas, caro amigo.
que belíssimo texto, é o que te digo!
Que "insónias" tão criativas!
Junto a minha voz ao coro de elogios: tão bonito!
~CC~
Até fico embaraçado com tanta simpatia. Obrigado.
mesmo mesmo
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