16.5.07

Folhas de Pó

para memória futura


Com dois vincos, dobrávamos o sonho em três. Festejávamos cada instante como se fosse o primeiro. O rio fez-se rápido, cada um a seu ritmo. Perguntaste porquê, uma, duas vezes. Pensei que tinha a resposta dentro de mim mas ela sempre esteve no rio. Salmões cheios de urgência antiga (é por ali, é por ali), lâminas pétreas, a frescura da água, troncos à deriva, alguma espuma, folhagem, frutos. Um dia, a calma curva de uma enseada reuniu-nos nesta margem, onde estendemos o sonho na erva. Discutimos o que fazer com ele, anoitecendo fogueira. Dizemos que queremos. Construir: dobrar a realidade entre os dedos. Anoitecendo, à fogueira, sombras bailarinas. Dançamos com elas?

Seguimos viagem, sabendo que não é possível mergulhar duas vezes na mesma exacta transparência.


4 comentários:

PB disse...

saudades dessas dobragens e da análise que faziamos de cada um dos exemplares fotocopiado há procura de pequenas imperfeições ... ABS

Cristina Gomes da Silva disse...

Tem graça! Tenho andado a pensar nestas coisas da memória a propósito dos escritores, poetas e outros artistas que registam o presente embrulhado em fios do passado, que se desenrolarão no futuro. E, justamente esta expressão "memória futura", afigura-se-me quase como um anacronismo, pois se é às memórias que pertencem coisas do passado, que raio de exercício é este de querermos antecipar o futuro através da memória registada dentro do presente? Bom, puras inquietações saídas das manhãs ao longo da A2-Sul. :)

Lp disse...

Mas é possível mergulhar. Outra vez.

j disse...

Ora nem mais!