Entre os meus amigos
Entre os meus amigos o amor é uma grande tristeza.
Tornou-se um fardo diário, um festim,
uma guloseima para loucos, uma fome para o coração.
Visitamo-nos uns aos outros perguntando, dizendo uns aos outros.
Não ardemos intensamente, questionamos o fogo.
Não caímos para a frente com os nossos rostos vivos
e ardentes olhando para dentro do fogo.
Fixamente olhamos para dentro dos nossos próprios rostos.
Tornámo-nos as nossas próprias realidades.
Procuramos esgotar a nossa absoluta incapacidade de amor.
Entre os meus amigos o amor é uma questão dolorosa.
Procuramos entre os rostos que passam
a face da esfinge que apresentará o enigma.
Entre os meus amigos o amor é uma resposta a uma questão
que não chegou a ser colocada.
Por isso coloquemo-la.
Entre os meus amigos o amor é um pagamento.
É uma dívida antiga cujo valor foi gasto de forma idiota.
E continuamos a pedir emprestado uns aos outros.
Entre os meus amigos o amor é um salário
que qualquer um pode receber para ter uma vida honesta.
Robert Duncan (1919-1988).
(versão minha, com colaboração de C. e de C., e dedicada a J. e a PB.; in City Lights Pocket Poets Anthology, ed. Lawrence Ferlinghetti, City Lights Books, San Francisco, 3ª ed., 1997, p. 44).
8 comentários:
Um abraço e isto: saboreia o livro (vai partilhando esse prazer, se quiseres) e depois arranja-lhe morada na tua estante - bem o mereces!(fica como parte da prenda em atraso :)
Tás maluco.
Sim, devo estar ;) Não me contraries, posso tornar-me perigoso. Quando chegarmos a São Francisco compro um exemplar para mim. Combinado?
boa ... vamos a Cisco!!!! BUTE!
Depois falamos...
Já arranjaste mais uma assistente? ;)
muito bonito, vou roubá-lo
Gosto de traduções colectivas... e amigáveis.
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