3.1.07

U(s) Too!



Deixo de lado, por momentos, Tony Judt e o seu monumental e interessantíssimo Pós-guerra... e leio, condição de admirador oblige, entusiasmadamente U2 by U2, o álbum de memórias desfiadas a quatro pelos bravos rapazes de Dublin (mais 1, Paul McGuinness, o agente de sempre da banda), editado em Setembro do ano que passou pela Fubu, chancela que desconheço mas a que vou prestar, naturalmente, atenção. Estou a meio. E estou a deliciar-me com as muitas fotografias e histórias, contadas em pormenor por Bono, Edge, Adam e Larry, que fizeram e fazem dos U2 a banda de música popular mais marcante do mundo nos últimos 25 anos, quer em termos musicais, quer em termos latamente políticos. Pelo menos, para mim. O livro não conta tudo, mas quase: as histórias familiares da rapaziada, os problemas entre pais e filhos (as zangas entre o Bono e o pai são um tema recorrente), o modo como se começaram a interessar por música (o facto de esta ser um chamariz eficaz para atrair miúdas parece ter sido fundamental!) não dominando quase nenhum tipo de conhecimento musical, o desejo de formar uma banda, os primeiros ensaios (95% de discussão e 5% de afinação das guitarras), a escolha do nome (começaram por ser, imaginem, os Feedback, depois foram os The Hype e só à terceira U2, nome que o Bono aceitou com dificuldade por poder ser lido também como you too, demasiadamente careta para uma banda pós-punk!), as primeiras aparições em escolas, bares e clubes de Dublin, os primeiros fracassos que se transformaram em desejo de serem e fazerem melhor (coisa mais fácil de conseguir em grupo do que individualmente), a vitória num concurso de bandas e o prémio de poder gravar um single, as portas que se fecharam todas... menos uma, no último momento!, a sorte de conhecer a pessoa certa, a determinação, a vontade de superação, o amor pela música, o primeiro álbum, Boy, e os primeiros concertos que deram nas vistas, as dificuldades com October e as belíssimas propostas do piano do The Edge, depois War e canções como "Sunday, bloody sunday", "New year's day" ou "40", a conquista gradual do mundo até se transformarem na banda/empresa/instituição/símbolo que hoje são. É um livro fantástico, portanto. Um prato cheio de iguarias para os fans, servido com doses maciças de humor e peripécias que permitem olhar estas rock stars como homens normais que souberam lutar, com inteligência e espírito de banda... ou de bando, pela concretização dos seus sonhos de rapazes, não perdendo a ligação ao mundo dito real. O livro ideal para começar o novo ano com certo optimismo e algumas gargalhadas à mistura. Provocadas, por exemplo, pela recordação daquele ensaio, no início de tudo, na casota de jardim do Larry, quando o telhado caiu sobre toda a gente devido ao peso da chuva. Ou pela descrição pormenorizada da famosa actuação no Live Aid, quando o Bono, mais uma vez, deixou os camaradas sem saber o que fazer em palco durante longos 6 minutos (tinha ficado combinado que seriam tocadas 3 músicas, foram tocadas apenas 2 por se ter esgotado o tempo da banda), lançando-se para cima do público. Foi a actuação mais marcante desse dia inesquecível (não sou eu que o digo!), mas ninguém na banda se apercebeu realmente disso. O Bono andou de candeias às avessas com o resto da equipa... até que jornais, revistas e televisões começaram a mostrar a actuação dos U2 como um momento fantástico e genuíno de crença no poder da música para comover as pessoas e, de uma certa maneira, para mudar o mundo (já agora, business man como são, eles lembram que, na semana a seguir ao Live Aid, os seus álbuns chegaram todos aos tops de vendas). Duas histórias das muitas que eles contam e que reacendem a vontade de os ouvir de novo em Boy, October, War, The Unforgettable Fire, The Joshua Tree e todos os outros álbuns magníficos que compuseram até How to dismantle an atomic bomb, o último, já de 2004. Será 207 ano de novo disco? Espero bem sim. Porque também nós fazemos parte da história. Sim, U(s) too!

3 comentários:

Desambientado disse...

Gostei do seu blog. Parabéns.
Tenho uma página num jornal Regional dos Açores, intitulada Blogs.do.mundo. Esta semana aborda as obras de Olivier Rolin. Gostei especialmente do seu post intitulado "Astoria-quarto#205".
Dá-me autorização para publicá-lo nessa página, fazendo referência ao seu blog?

Cumprimentos:

Félix Rodrigues

j disse...

Ora essa, meu caro Félix. Esteja à vontade. Se gostou e lhe serve para a página, pois pagine! E pode saber-se qual é o jornal? Cumprimentos.

Desambientado disse...

Obrigado.

O Jornal é "A União" da ilha Terceira-Açores.

Votos de um bom ano.

Félix