Deixo de lado, por momentos, Tony Judt e o seu monumental e interessantíssimo Pós-guerra... e leio, condição de admirador oblige, entusiasmadamente U2 by U2, o álbum de memórias desfiadas a quatro pelos bravos rapazes de Dublin (mais 1, Paul McGuinness, o agente de sempre da banda), editado em Setembro do ano que passou pela Fubu, chancela que desconheço mas a que vou prestar, naturalmente, atenção. Estou a meio. E estou a deliciar-me com as muitas fotografias e histórias, contadas em pormenor por Bono, Edge, Adam e Larry, que fizeram e fazem dos U2 a banda de música popular mais marcante do mundo nos últimos 25 anos, quer em termos musicais, quer em termos latamente políticos. Pelo menos, para mim. O livro não conta tudo, mas quase: as histórias familiares da rapaziada, os problemas entre pais e filhos (as zangas entre o Bono e o pai são um tema recorrente), o modo como se começaram a interessar por música (o facto de esta ser um chamariz eficaz para atrair miúdas parece ter sido fundamental!) não dominando quase nenhum tipo de conhecimento musical, o desejo de formar uma banda, os primeiros ensaios (95% de discussão e 5% de afinação das guitarras), a escolha do nome (começaram por ser, imaginem, os Feedback, depois foram os The Hype e só à terceira U2, nome que o Bono aceitou com dificuldade por poder ser lido também como you too, demasiadamente careta para uma banda pós-punk!), as primeiras aparições em escolas, bares e clubes de Dublin, os primeiros fracassos que se transformaram em desejo de serem e fazerem melhor (coisa mais fácil de conseguir em grupo do que individualmente), a vitória num concurso de bandas e o prémio de poder gravar um single, as portas que se fecharam todas... menos uma, no último momento!, a sorte de conhecer a pessoa certa, a determinação, a vontade de superação, o amor pela música, o primeiro álbum, Boy, e os primeiros concertos que deram nas vistas, as dificuldades com October e as belíssimas propostas do piano do The Edge, depois War e canções como "Sunday, bloody sunday", "New year's day" ou "40", a conquista gradual do mundo até se transformarem na banda/empresa/instituição/símbolo que hoje são. É um livro fantástico, portanto. Um prato cheio de iguarias para os fans, servido com doses maciças de humor e peripécias que permitem olhar estas rock stars como homens normais que souberam lutar, com inteligência e espírito de banda... ou de bando, pela concretização dos seus sonhos de rapazes, não perdendo a ligação ao mundo dito real. O livro ideal para começar o novo ano com certo optimismo e algumas gargalhadas à mistura. Provocadas, por exemplo, pela recordação daquele ensaio, no início de tudo, na casota de jardim do Larry, quando o telhado caiu sobre toda a gente devido ao peso da chuva. Ou pela descrição pormenorizada da famosa actuação no Live Aid, quando o Bono, mais uma vez, deixou os camaradas sem saber o que fazer em palco durante longos 6 minutos (tinha ficado combinado que seriam tocadas 3 músicas, foram tocadas apenas 2 por se ter esgotado o tempo da banda), lançando-se para cima do público. Foi a actuação mais marcante desse dia inesquecível (não sou eu que o digo!), mas ninguém na banda se apercebeu realmente disso. O Bono andou de candeias às avessas com o resto da equipa... até que jornais, revistas e televisões começaram a mostrar a actuação dos U2 como um momento fantástico e genuíno de crença no poder da música para comover as pessoas e, de uma certa maneira, para mudar o mundo (já agora, business man como são, eles lembram que, na semana a seguir ao Live Aid, os seus álbuns chegaram todos aos tops de vendas). Duas histórias das muitas que eles contam e que reacendem a vontade de os ouvir de novo em Boy, October, War, The Unforgettable Fire, The Joshua Tree e todos os outros álbuns magníficos que compuseram até How to dismantle an atomic bomb, o último, já de 2004. Será 207 ano de novo disco? Espero bem sim. Porque também nós fazemos parte da história. Sim, U(s) too!
3.1.07
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3 comentários:
Gostei do seu blog. Parabéns.
Tenho uma página num jornal Regional dos Açores, intitulada Blogs.do.mundo. Esta semana aborda as obras de Olivier Rolin. Gostei especialmente do seu post intitulado "Astoria-quarto#205".
Dá-me autorização para publicá-lo nessa página, fazendo referência ao seu blog?
Cumprimentos:
Félix Rodrigues
Ora essa, meu caro Félix. Esteja à vontade. Se gostou e lhe serve para a página, pois pagine! E pode saber-se qual é o jornal? Cumprimentos.
Obrigado.
O Jornal é "A União" da ilha Terceira-Açores.
Votos de um bom ano.
Félix
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