- Sozinho.
- Eu já estava sozinha há muito tempo.
Aprendo com os erros e volto a errar. A escolaridade obrigatória do amor parece não ter fim.
três velhos amigos e uma mesa de café junto à janela
Não me apetece escrever muito – já quase tudo se escreveu e se disse e, finalmente, é mesmo uma questão de consciência. Apenas quero deixar registado que, no próximo dia 11 de Fevereiro, votarei SIM no referendo sobre a despenalização da IVG. SIM, pela liberdade responsável de todos; SIM, pela saúde das mulheres; SIM, contra o cinismo. Acrescento apenas que, sobre o assunto, vale a pena seguir a sugestão do empenhado respirar e ler esta reportagem na edição de hoje do DN.
Dizem que até neva. Descubro um poema e rapto alguns versos, sorrateiro, como essa neve que diz que disse.
"Não há guarda-chuva
contra o poema
subindo de regiões onde tudo é surpresa
como uma flor mesmo num canteiro.
Não há guarda-chuva
contra o amor
que mastiga e cospe como qualquer boca,
que tritura como um desastre."
Regressa a chuva. Mas como regressa, se nunca deixou de aguar?
(depois de algumas palavras de LP)
Dizes um belo poema com facas e laranjas que também pode ser de unhas e dentes nessa pele. Sabemos como são doces ou amargos os gomos, às vezes com uma pitada de acidez que arrepia. Sabemos que, como as palavras, o sumo pode escorrer dos lábios para o queixo, até deslizar pelo pescoço, a pedir, digamos, alguma criatividade linguística. Mas – repara! -, tal como mordemos e chupamos as laranjas, dizemos quase tudo, quase sempre, com cuidado, para evitar salpicos e nódoas maçadoras.
Procuro nos bolsos os restos da paisagem. Passo os dedos pela cara lisa, estranhando-me, vagamente outro. Uma voz comenta, sobre o meu ombro (dentro de mim?): começam assim muitas pinturas abstractas e algumas guerras civis. Respondo, ainda sem sorrir: um dia, da falta de sentido que há nisto tudo, nascerá a desejada tranquilidade. Coloco num cachimbo os restos da paisagem e arrisco um fósforo.